Quinta, 14 Ago 2025

Como proteger as crianças das desavenças conjugais?

Proteger as crianças das desavenças conjugais é um ato de amor e de respeito a infância e a adolescência. Não é infrequente ver pais usando os filhos para atacar uns aos outros. É como se os filhos virassem artilharia pesada para destruir o cônjuge.

Quando isso acontece um sentimento muito doloroso aparece - a RAIVA! A raiva um do outro e os filhos surgem no meio dessa batalha como forma de barganha. Isso sem falar se um dos parceiros se exime de custear as necessidades básicas da criança ou de manter contato com ela. Ai que a coisa piora e muito!

O casal ressentido pode usar os filhos para atingir ao outro, forçando a criança a tomar partido da situação.

Um casal que utiliza desse tipo de subterfúgio na verdade está minando a saúde mental de sua criança de maneira indelével. Os filhos precisam se sentir amados e poderem amar livremente seus pais - sem mais "se".

Por amor aos pais, a criança deseja ser fiel a ambos e não ter que fazer escolhas ou ainda ter que apontar quem é o melhor ou quem é o pior. As crianças chamadas para tomarem partido de um dos pais, pode se sentir responsável pelos conflitos familiares e, dessa maneira, ser "capaz" de pôr um fim neles. Pura fantasia e ingenuidade infantil!

Na realidade, uma criança exposta num campo de batalha conjugal se sente ansiosa, angustiada, impotente, triste e pouco confiante em si, no outro e no ambiente que a cerca. Uma criança nessa situação corre o risco eminente de cursar com baixa autoestima, tristeza intensa, rancor e predisposição a doenças emocionais e físicas por inabilidade em lidar com os seus próprios conflitos e as desavenças dos pais.

Os pais dentro de uma relação conflituosa precisam, em primeiro lugar, olhar para as crianças e evitar que elas sejam membro integrante das discórdias e das disputas do casal. Pais responsáveis devem passar para os filhos que as desavenças que estão acontecendo entre eles estão servindo para que eles, pais, se acertem e possam resolver as coisas da maneira mais cordial possível, pois acima de tudo, está o amor pelos filhos.

Outro fundamento importante no período conflitivo de um casal é não deixar os filhos se meter na relação. Lugar de criança é em seu lugar de criança. Estou habituada, como terapeuta de família, observar crianças se metendo na relação do casal e tentando consertar o casamento dos pais. Isso é inaceitável!

Primeiro, as crianças não têm preparo e nem função para serem mediadoras da relação conjugal dos pais. Segundo, as crianças ficam muito assustadas com as desavenças dos pais, inseguras e frustradas por não conseguirem de nenhuma maneira reparar os conflitos familiares. E por último, uma criança que gasta seu tempo e suas reservas emocionais tentando juntar os pais, não conseguem tempo e saúde emocional para pensar em seu próprio mundo - não conseguem se desenvolver físico e emocionalmente a contento.

Como pais, precisamos estar atentos para o comportamento de nossas crianças frente a um período de conflito familiar e se as coisas estiverem saindo do controle, buscar técnicas relacionais é de grande utilidade.

Procure olhar para o seu filho, observe o que ele está tentando lhe dizer com o comportamento dele (agressividade, retração, mau desempenho escolar, mudança no apetite, alteração do sono, etc.), interprete junto com ele as emoções, valide emoções e seja com seu filho empático (acima de tudo)!

Mostre para o seu filho, que como adultos vocês estão tentando resolver as coisas e que tudo vai terminar bem. Que sua criança não é a causadora de nada e que o amor que você sente por ela é independente da situação que papai e mamãe estão vivendo.

Olhe para o seu filho como seu foco de respeito e amor e mantenha sua comunicação direta com o outro cônjuge - não use seu filho como "WhatsApp" e não omita informações importantes sobre ele (comportamento escolar, datas comemorativas, doenças, tratamentos, segredos sobre viagens, etc.).

As crianças sofrem com as brigas dos pais e se tranquilizam quando percebem que está tudo bem. Os pequenos se apaziguam emocionalmente quando observam seus pais conversando e se entendendo cordialmente. E que no final do entendimento é observado um toque respeitoso ou um aperto de mãos entre os parceiros.

Enfatizamos muito as crianças, mas os adolescentes também se ressentem com a separação dos pais. Alguns se tornam mais retraídos, outros mais agressivos e outros adotam a família do amigo como fonte de segurança e abertura emocional. Esse comportamento não é ruim! Pode ser visto como uma rede de apoio, desde que essas pessoas sejam boas influências e os pais continuem monitorando o cotidiano dos filhos.

Como pais não queremos que os filhos sofram. Nossa tendência frente a um conflito conjugal é excluir os filhos do que está acontecendo. Agimos de maneira ingênua! Os filhos observam e percebem tudo!

Se as crianças/adolescentes são assim, a melhor coisa que temos a fazer frente as desavenças conjugais, é chamar os filhos, conversar de maneira objetiva e respeitosa com eles e mostrar que vocês estão buscando uma boa saída para todos e que vocês gostariam de ouvi-los. Os filhos precisam de um espaço para colocarem suas aflições, sentimentos e receios abertamente e cabe aos pais dar esse espaço e esclarece-los.

* Terapeuta Familiar - Casal - Individual, ênfase na relação mãe-bebê. Especialista-Mestre-Doutora-Pós-Doutora pela UNIFESP, Fellow Universidade Pittsburgh - USA. Site: www.terapeutadebebes.com.br. Instagram: @terapeutadebebes_familia

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