Terça, 02 Dez 2025

A infância na atualidade possui um lado romantizado, mas também um lado de carência e abandono

De um lado temos pais muito antenados e do outro pais sem tempo para acompanhar o crescimento de seus filhos. Pensar sobre infância na atualidade me remete a vários aspectos sobre o "ser criança". Infância vem de In-fans que significa aquele que não fala e esse significado está muito perto de nós quando o assunto é a construção da infância na nossa sociedade.

Na atualidade, temos leis que visam proteger a infância e é amparada pelo Estatuto da Criança e Adolescente (Lei 9.069/13-07-1990), onde é possível reconhecer a criança como um ser de direito e com necessidades de "Vir a ser" no futuro - um sujeito.

Se é assim, será que realmente estamos protegendo nossas crianças (a infância) e amparando-as em suas necessidades humanas básicas (amor, proteção, saúde, moradia, alimentação, educação, etc.), ou o "ser" é coisa de futuro? Tenho lido algumas pesquisas que demonstram que a criança é vista como um "Ainda não" - ela se tornará um sujeito, realmente, no futuro - a criança ainda é vista como uma extensão dos pais, sem muitas escolhas, pois, ainda é "De menor".

Se as coisas acontecem dessa maneira, o investimento principal dos pais não é na infância e sim no preparo dessa criança para seu desempenho futuro na sociedade. O brincar, o ócio criativo, a fantasia, o livre pensar infantil, o desfrute da natureza deve passar rápido para que a criança comece a ser preparada para ser o adulto de amanhã.

Isso sem falar das crianças que nunca tiveram ou nunca terão uma infância, pois, são inseridas no mercado de trabalho para colaborarem precocemente com o sustento da família.

Como terapeuta familiar recebo famílias, cuja principal queixa é o mau comportamento infantil: bater, morder, empurrar, gritar, beliscar, não fazer lição de casa. Não amigos, não estamos falando de crianças de 9 ou 10 anos. Estou me referindo a crianças de 3 a menos de 4 anos. Quem será o responsável pela falta de educação dessas crianças?

A família? A escola?

Tive a oportunidade de ler a agenda escolar de uma criança de 3,5 anos: manhã atividade regulamentar: a maior parte das atividades do período eram realizadas dentro da sala de aula. A tarde as agendas variavam ao longo da semana - aulas de música, inglês, esportes, culinária, artes, relaxamento, robótica, jardinagem, etc. E nos sábados ainda poderiam fazer um curso de mine celebridade para se tornarem influenciadores digitais no Youtube, Instagram, Facebook.

Com tantas atividades e com uma verdadeira agenda de um CEO que momento estas crianças podem ser crianças?

E os pais, onde entram nesse viés?

Muitos estão delegando os dispositivos eletrônicos aos seus filhos para obterem um pouco de tranquilidade e outros, concordam com a agenda dos rebentos, pois, é de pequeno que se prepara o "Sujeito de Sucesso" de amanhã.

Aquele filho que será admitido nas melhores universidades, que será inserido nos excepcionais mercados de trabalho e que será exibido como um troféu para a sociedade. O famoso "Feito por Mim"!

E aí, eu pergunto: entre a infância e o sucesso do adulto vai existir uma fenda. Quem vai preenche-la? Quem vai preencher o vazio emocional dessa criança que não teve a oportunidade de ser criança?

As crianças do mundo contemporâneo são mestres em tecnologia e insipientes em socialização: elas trocam as brincadeiras pelas telinhas dos dispositivos eletrônicos. Mas quem dá esses aparelhinhos?

Será que não podemos encontrar um meio termo? Será que não podemos acertar o tempero entre o desejo de sucesso e a interação mediada pelo afeto, pela palavra e pelo olho no olho?

* Terapeuta Familiar - Casal - Individual, ênfase na relação mãe-bebê. Especialista-Mestre-Doutora-Pós-Doutora pela UNIFESP, Fellow Universidade Pittsburgh - USA. Site: www.terapeutadebebes.com.br. Instagram: @terapeutadebebes_familia

Veja mais notícias sobre Dra. Regiane Glashan.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Terça, 02 Dezembro 2025

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.atibaiahoje.com.br/