Quinta, 02 Maio 2024

O Diabo mora nos detalhes

Tanques russos sendo destruídos por soldados ucranianos, utilizando misseis Javelin

Jean Claude Latin
Especial para o Atibaia Hoje

NOCAUTE
Putin, por muito tempo foi diretor da temível KGB - polícia secreta russa - e há mais de 20 anos, presidente e detentor do poder absoluto, ao dar a ordem para seus tanques avançarem sobre a Ucrânia, com certeza não tinha informações precisas sobre o ânimo da população ucraniana em relação aos russos, principalmente após a anexação da Crimeia. Putin tinha certeza que iria colocar a nocaute a Ucrânia e ainda no primeiro round. A Rússia não levou em conta que informação é poder. Muito poder. E faltaram informações seguras. O primeiro e o mais importante detalhe.

INFORMAÇÃO É PODER
Há mais de 2.500 anos, na antiga Pérsia, os governadores das províncias eram chamados da sátrapas e nomeados pelo Xá, que mantinha uma rede de espiões que era chamada de "os olhos e ouvidos do rei", evitando que o rei fosse surpreendido por falta de informações sobre qualquer fato importante ocorrido e que poderia colocar em risco o seu vasto império. Nos tempos mais recentes, muitas batalhas foram decididas através de informações ou contrainformações, ou sejam, detalhes. O "Dia D" - desembarque dos aliados na França que ocorreu na Normandia, mas fizeram crer aos alemães que o ataque ocorreria em Pás-de-Calais, local francês mais próximo da costa da Inglaterra. Até Hitler tinha certeza que o desembarque seria em Pás-de-Calais, tanto que demorou muito tempo para liberar as Divisões Panzers que estavam sob suas ordens diretas, graças às informações falsas geradas pelos aliados e que ele acreditava.

SURPRESA
Putin também não levou em conta uma máxima militar que diz: "Todos os planos de guerra vão abaixo quando é disparado o primeiro tiro". Nos primeiros dias da invasão, correu tudo como planejado pelas forças russas, com a destruição dos aeroportos militares, destruindo ainda no solo a força aérea ucraniana, enquanto os tanques avançavam, aparentemente sem oposição. De repente, não mais do que de repente, os poderosos tanques russos T-34 começaram a ser destruídos, os helicópteros de ataque Mi-24 abatidos e os sofisticados caças-bombardeiros SU-34 derrubados. O que estaria acontecendo? Mais uma vez faltaram informações e mais um detalhe que passou desapercebido aos militares russos, que desconheciam a enorme quantidade de mísseis devastadores, a maioria levados por um único soldado, como o Javelin, destruidor de tanques, e de fácil manuseio, tanto que se diz: "dispare e esqueça". O Javelin nunca erra o alvo.

TÁTICA
Putin percebeu ou vai perceber que não mais teremos batalhas como a de Kursk, durante a Segunda Guerra Mundial, na Rússia, que envolveu 3.600 tanques russos e 2.700 tanques alemães. Não mais teremos batalhas aéreas, como a Batalha da Grã-Bretanha (1.941/1942), com os caças Spitfire defendendo o país dos bombardeiros alemães escoltados por caças Messerschmitt 109. Isso é coisa do passado.

REALIDADE
Agora, como está sendo provado na Ucrânia, um soldado levando e disparando um míssil Javelin é capaz de destruir um tanque. Um míssil Stinger disparado por um soldado abate um caça-bombardeiro SU-34, tido e havido como a joia da coroa da Força Aérea Russa e até quarta-feira, dia 9, quatro já foram abatidos. Os ucranianos, algo que não foi alertado pelo serviço secreto russo, estão usando o drone Punisher, que não é detectado por radares, que lança misseis a 50 quilômetros de distância e atingem os alvos. Ou seja. Falando de táticas militares, o que valia até o dia 24 de fevereiro de 2.022. Agora, em meados de março, não tem mais valia.

LOGÍSTICA
Por não dar importância aos detalhes e acreditar que a invasão seria um passeio, mas na realidade a força de ataque composta por blindados, anda e para, por um simples motivo. Faltou logística para abastecer os blindados, os carros de assalto e veículos com suprimentos militares e comida para os milhares de soldados.

IMPONDERÁVEL
Agora, a Rússia passa a sofrer um ataque econômico e financeiro. A Bolsa de Moscou está fechada. A moeda russa, o rublo, está despencando, com repercussão na população, que pouco sabe da invasão ou sabe que está sendo um sucesso, pois a mídia russa é comandada pelo governo, mas que deve estar se perguntado: Se tudo vai bem, por que as grandes empresas multinacionais deixando a Rússia? Na verdade, a reação mundial não era esperada por Putin, pensando que poucas vozes se levantariam, como aconteceu quando anexou a Criméia. Mas agora aconteceu o imponderável.

ECONOMIA
Grandes empresas estão deixando a Rússia. Até esta sexta-feira, dia 11, conheça as multinacionais que deixaram ou deixarão a Rússia: Visa, Netflix, Intel, FedEx, L'Oréal, Volkswagen, Apple, Sony, Ford, Puma, Amazon, American Express, WB, Microsoft, Toyota, Shell, ExxonMobil, Google, Unilever, Mastercard, YouTube, Coca-Cola, Pepsi, Heineken, McDonald's, Burguer King e Disney World.

RETALIAÇÃO
Segundo o serviço secreto americano, Putin não esperava o cenário internacional e por ser frio e não admitir os fatos, ele deverá tentar moer a Ucrânia, aumentando os ataques em todas as frentes. E com extrema violência. Tanto que os corredores humanitários e o cessar-fogo não são respeitados pelos russos, buscando implantar um clima de terror entre a população civil. No campo econômico, a Rússia irá retaliar, mas vale a pena lembrar e que pouca gente sabe, que o PIB (Produto Interno Bruto) da Rússia e menor do que o do Texas e igual ao da Flórida. Em relação aos fertilizantes, ao trigo e ao milho, a Rússia deverá vender, queira ou não, para ter uma receita para alimentar os seus quase 150 milhões de habitantes em seu vasto território, com mais de 17 milhões de quilômetros quadrados, praticamente o dobro do tamanho do Brasil.

DESESPERO
Poucas opções restam a Putin para sair do lamaçal, buscando fatos sem lógica, afirmando que os ucranianos estavam fazendo uso de armas químicas e biológicas não apresentado provas na reunião do Conselho de Segurança da ONU, de sexta-feira última. Ou seja. Buscando desculpas, mas sem provas. Como desespero, diante da resistência ucraniana, a Rússia está atacando e bombardeando a cidade de Mariupol, às margens do Mar de Azov, onde os mortos estão sendo sepultados em covas coletivas.

ACORDO
Resta a Rússia aceitar um acordo e anexar as Donetsk e Luhansky, províncias que ele alega implorarem para fazer parte da Mãe Rússia. E mais nada. A Rússia pretende ocupar o sul da Ucrânia, para evitar que ela tenha acesso ao Mar Negro, com objetivo de estrangular a economia ucraniana, ao não ter uma saída para o Mar Negro ou para o Mar de Azov, e de lá, através do Estreito de Bósforo (Turquia) alcançar o Mar Mediterrâneo. Algo que os ucranianos não deverão concordar, pois seria a morte lenta de uma nação, que sobreviveu ao ataque de um dos poderosos exércitos do mundo, mas cujos comandantes não repararam nos detalhes e é exatamente onde o diabo mora.

FUTURO
A invasão à Ucrânia gerou até hoje, 12 de março, mais de 2,5 milhões de refugiados, sendo recebidos com dignidade e humanidade pelos países fronteiriços e os mais distantes, enquanto cenas terríveis percorriam o mundo, sobre ataques a cidades, sem nenhuma relevância estratégica. Mesmo que destruam a capital Kiev, os russos não poderão alegar uma vitória diante do mundo e o fracasso, recairá sobre os ombros de Putin, gerando um descontentamento entre as elites dominantes e os oligarcas russos, que sofreram reveses com o congelamento de suas fortunas e bens imóveis e móveis de pelo mundo afora. Um detalhe não pode escapar. Putin pode ser destronado, deixando a Rússia, com suas seis mil ogivas nucleares em mãos até hoje desconhecidas.

Veja mais notícias sobre Colunas.

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Quinta, 02 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.atibaiahoje.com.br/