Sexta, 29 Mar 2024

Casamentos desintegrados podem influenciar na saúde emocional dos filhos

Dra. Regiane Glashan*

Alguns casamentos quando estão nos "últimos suspiros", costumam influenciar na saúde emocional dos filhos. Cada parceiro olha para o seu campo minado e esquece que dentro do campo existe uma vida que precisa ser vista e respeitada - o filho. É claro que com isso as interações, os vínculos e as emoções ficam a flor da pele.

Algumas características peculiares acontecem num casamento à beira de um ataque de nervos e com repercussão para as crianças: 1- criticismo exagerado, 2- desdém, 3- ataque e contra-ataque e 4-fenômeno da concha. Vamos conhecer um pouquinho de cada uma dessas características e o quanto elas repercutem nas crianças.

  • 1. Criticismo exagerado: quando os afetos estão comprometidos devido ao desgaste relacional, é possível observar um parceiro falando mal do outro. Você pode até pensar: "Nossa, eu as vezes me queixo do meu parceiro e não acho que o estou criticando". Ok, a queixa é dirigida a uma situação específica, enquanto que a crítica atinge o outro como um todo - há a completa desqualificação do parceiro e com grande comprometimento de seu valor intrínseco.
  • A crítica ainda pode vir mascarada de frustração não declarada pelo outro. É claro que com toda essa ebulição a raiva e a ira podem servir de personagens complementares ao criticismo. Mas o que o excesso de crítica tem a ver com as crianças? O criticismo pode virar ataque, gerar mágoas e promover um ambiente familiar tenso (repleto de medos e inseguranças). Quando a tensão fica exacerbada, um dos parceiros ou ambos pode introduzir nosso segundo item: desdém!
  • 2. Desdém: o desdém é um degrau a cima da crítica e, portanto, mais visceral e perfurante! O desdém entra em cena como uma ferramenta mais potente de guerra. Ele é mais certeiro, pontudo e fere o emocional do parceiro com maior intensidade. Passa a ideia de ficar "quite". Toda vez que existe uma oportunidade, um parceiro pode depreciar o outro, xingar e cada vez mais promover a redução de recursos afetivos sinceros. Não há mais espaço para pensamentos positivos e boas ações - a implicância se torna a palavra de ordem! E o que tudo isso tem a ver com as crianças? Imagine uma criança vivendo num ambiente de "caras e bocas" feias, repleto de ofensas e de desrespeito! A criança vive sob tensão o tempo todo e se uma briga ocorrer, ela pode achar que teve alguma culpa ou que ela desencadeou o evento. Quando o desdém toma conta da relação e a admiração pelo outro desaparece, pode surgir, então, nosso terceiro item - o ataque e contra-ataque.
  • 3. Ataque e contra-ataque: a partir do momento que um dos cônjuges se sente exposto para ser atacado, é normal que um deles assuma uma posição de defensiva. Quando isso acontece ninguém abre um canal de comunicação saudável e a responsabilidade pelos fatos provavelmente é do outro. E o que as crianças têm a ver com isso? É provável que escutemos frases do tipo: "Certamente, não é culpa minha que o Pedrinho vai mal na escola!"; "Eu não tenho nenhuma responsabilidade se a Mariana pegou uma gripe!". Dentro desse contexto, ainda pode acontecer a queixa cruzada. Ele reclama dela e ela reclama dele - ninguém cede! Imagine uma criança no meio de tudo isso!
  • 4. Fenômeno da concha: quando os cônjuges não conseguem chegar a um denominador comum, eles podem apelar para a "parede". Um dos parceiros ergue uma parede imaginária para separar um do outro ou ainda se fecha dentro de uma concha. Ninguém mais se vê, se fala ou se ouve. Acontece um silêncio tenso! As brigas e ofensas diminuem e junto com eles o amor, a consideração e a admiração. O casamento pode até sobreviver, mas será em seu âmago um fracasso. E as crianças como ficam? Elas se sentem desamparadas, desprotegidas e com a nítida sensação de que algo ruim pode acontecer a qualquer momento.
  • Espero que o ambiente em sua casa esteja amoroso e atue como um caldo nutridor de bons afetos.

* Terapeuta Familiar - Casal - Individual, ênfase na relação mãe-bebê. Especialista-Mestre-Doutora-Pós-Doutora pela UNIFESP, Fellow Universidade Pittsburgh - USA. Site: www.terapeutadebebes.com.br

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