Terça, 03 Jun 2025

Descascando batatas militares

Na falta do que fazer, passo dias e mais dias - quase todos os dias - sem fazer nada. Nada de nada, mano. E nada é nada, como explicariam os poetas de antigamente, se bem que, de verdade, em verdade, como diriam os santos, eu nem sabia se os poetas de antigamente estavam tão preocupados assim com as verdades.

Na verdade, e na maior parte dos casos, a verdade, ou as verdades existem para quem vai atrás delas. Como a gente nunca sabe onde está a verdade, fica difícil a gente procurar por ela. Verdade, mano. O que é a verdade, você sabe? Eu falo da verdade verdadeira, a verdade nua e crua, doa a quem doer, como costumam dizer os mais sábios e evoluídos. Como não sou nem sábio e nem tão evoluído assim, melhor passar de lado, ou passar de banda, como dizem os caboclos, para não esbarrar em alguma mentira.

" Fazer o quê, hein? "

Na verdade, eu falo das minhas verdades, passei a vida inteira, pelo menos até agora, correndo atrás de coisas para fazer. Primeiro estudava um pouco (estou falando a verdade, estudava só um pouco), ou quando os professores exigiam muito - noves-fora quando pai e mãe apertavam - "digaí! Não minta!".

Engraçado, eu nunca aprendi a mentir.

Uma ou outra mentirinha, absolutamente improvável, não mais que isso. Falando e escrevendo quase toda a minha vida, adoro a verdade. De verdade. Nada como a verdade, penso eu e com certeza pensa você, meu caro leitor. Verdade a gente fala onde tiver que falar, diante de quem tem que ouvir para não resmungar depois dizendo que ouviu mal.

Mano, caro mano, a verdade é a verdade. Por mais que doa. Dói na hora e entra na cabeça da gente para nunca mais sair. Verdade, claro, e com certeza o ilustre leitor também pensa assim.

" E não é? "

Claro que sempre tem uma mentirinha dessas bem mentirinhas mesmo, que a gente às vezes usa, coisa do tipo estacionar o carro num local proibido.

Na falta do que fazer resolvi descascar batatas. Isso mesmo, caro amigo, descascar batatas. De alguma maneira foi uma volta ao passado, nos tempos em que fui selecionado para "Servir ao Exército!". Na primeira frase já fui repreendido pelo computador que garante que a expressão está totalmente errada. Na verdade, eu fui incorporado ao Exército brasileiro, não é assim que se diz? Se é ou se não é fica sendo. Então, repetindo, fui incorporado ao Exército Brasileiro, se não é assim que se diz, fica o dito pelo dito. Inclusive o Dito foi um grande amigo que eu tive lá no tal de Segundo G-Can 90.

" Lembrando "

Esclareço, para não deixar o leitor ressabiado, que fui buscar esta história nos tempos que eu também andava fardado, vestindo verde-oliva, pelaí. E ai! (esse ai! tem que soar como dor. Afinal estamos falando de um soldado do glorioso Exército Brasileiro). Ai do cara que fosse flagrado sem farda pelas ruas. Soldado tinha que andar fardado.

Menos mal que eu servi ao Exército nos quartéis da cidade de Quitaúna, onde a gente preferencialmente chegava com o trem. Era o chamado "Trem Militar", que partia da Estação Júlio Prestes, que abrigava os trens da Sorocabana. Lembra da Sorocabana? Estrada de Ferro Sorocabana.

Nossa, quanta Saudade!

" E lá fui eu "

A Sorocabana levava e trazia seus passageiros tanto das regiões mais próximas, quanto das mais longínquas. E lá vinha o trem. Apitando. Apito marcante na vida da gente. Quem servia ao Exército, não podia vacilar. Perder o trem militar, que era de graça, claro, tinha que pegar e pagar os trens de carreira, trens que circulavam no subúrbio paulistano.

Como? Você nunca tinha ouvido falar do tal trem militar? Pois é, ele existiu. Nem sei se existe ou circula ainda hoje. Ora essa, como é que os militares que sevem à Pátria fazem hoje? Sei lá. Eu deveria sair por aí perguntando coisas e mais coisas. Diacho, as coisas e mais coisas daquele tempo também já não representam nada nem coisa nenhuma.

Saudade danada porque nunca mais andei de trem. Eu falo dos trens da Sorocabana que tanta saudade deixaram em mim. O tonto desta história, eu, claro, nem imaginava perder o trem militar mano! Seria um sufoco!

Sim, porque o próximo trem, depois do trem militar, só partia meia hora ou mais um pouco depois. Naquele tempo quando o soldado chegava em Quitaúna, que era a cidade que abrigava os quartéis militares, já pegava uma pernoite ou quem sabe até alguns dias de plantão. Nem podia voltar pra casa.

" Sentido! "

"Batalhão, Sentido!"

Era o que mais se ouvia. E olhe todo mundo em posição de sentido esperando mais ordens. Eu, hein! Recebi tantas ordens que hoje em dia não quero nem ouvir e nem pensar em receber ordens, vivo na maior desordem possível.

E nem ando mais de trem. Muito menos em trens militares. Só não estou "Sentido!" - não. Tenho até saudade daquele tempo em que servi ao Exército nos quartéis de Quitaúna.

Qualquer hora dessas pego um trem, militar ou não e vou até lá.

Pro "Batalhão - Sentido!".

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