Ficamos assim

Aliás, para começo de conversa, não sei se vou ou se fico, se fico ou se vou, ou se vou e se fico assim mesmo.

Taí uma frase que me dá tanta saudade. Saudade sim, de minha avó, a portuguesa Dona Olinda. Tinha cabeça e tinha origens filosóficas a "Vó Olinda". Mais que isso, as tiradas ou "sacadas" que fazia. Essa do "não sei se vou ou se fico", ficou na minha cabeça. Até hoje, eu mesmo não sei se vou ou se fico, se fico ou se vou, ou se vou ou se fico.

" Vou ou fico? "

Sei lá. A vida é feita disso, das dúvidas. Todas as dúvidas possíveis. A gente nunca sabe se deve ir ou ficar, se deve ficar ou ir, se deve, inclusive e especialmente, mandar tudo à "eme" (escrevi "eme" para não parecer grosseiro e escrever a tal da merda, tão presente nos dias e horas atuais - nem sei se o prezado leitor concorda).

Claro que sim.

Claro que concorda. Tem até uma musiquinha, ou musicona que é bem clara nessa afirmação: "e tudo vira b!". Todos conhecem, não? E tudo vira "B" mesmo! - especialmente no mundo de hoje.

No hoje, por aqui, realmente e geralmente as coisas, até as coisas que começam bem, terminam daquele jeito que a tal da música diz: "e tudo vira bosta!".

" O começo "

O time da gente, por exemplo. Quase sempre começa fazendo o primeiro gol, não demora muito, se sente o melhor time do mundo e cai no "ora veja, que bosta!". Bolinha pra cá, bolinha pra lá, o adversário vem, empata, e tudo cai na frase que virou a tal música do "e tudo vira b!".

Noves fora os governos que conseguiram conquistar a gente, prometendo isso e aquilo e mais um quilo. O tempo passa e não vem nem cem gramas. E como tudo, tudo vira a tal de "b" (que ainda uma vez escrevo B para não estar repetindo a palavra Bosta, como diz a canção).

De um dia para o outro, de uma semana para a outra, de um mês para o outro, tudo vira B (B, repito, para não voltar a escrever a palavra Bosta. E não é que isso tudo é uma bosta mesmo?). Se bem que não se tenha muita escolha porque as coisas são e ocorrem assim mesmo, numa bosta.

" Como é? "

Quanto mais a gente espera, quanto mais a gente precisa, quanto mais o quanto mais é necessário, tudo acaba se transformando mesmo na tal da já citada e mencionada bosta. É ou não é mesmo uma bosta?

Antigamente a gente evitava falar nisso, dizer claramente essa palavra, a tal de bosta, só que as coisas deram para complicar tanto, deram para se tornar tão indesejáveis, em tudo e por tudo, desde o governo até o time da gente, que a gente acabou achando mesmo que tudo virou e chegou na tal da bosta.

" Desconfie "

Por sinal nem desconfio quem resgatou essa expressão para se tornar uma palavra tão solene, tão usada, tão citada e tão concreta e correta nos dias de hoje.

Pense bem, caro amigo leitor: todo fim de mês o salário da gente acaba virando o quê? Já viu, né? Vira bosta.

Quase em todos os jogos que joga, o time da gente vira o quê? Vira bosta.

A gente trabalha feito um louco e, quase sempre, no fim do dia, a gente vira o quê? Vira bosta.

É ou não é uma bosta? E que bosta é essa? É mais bosta do que a própria bosta. Bosta é bosta, claro, dirão todos, mas a bosta da vida da gente virou mesmo uma bosta mais bosta que a própria bosta.

" No frio "

Estamos na época do frio, não estamos? E para sermos honestos, temos que concluir que o frio, pelo menos até aqui, neste ano, neste tempo, até o frio virou bosta. Um friozinho de bosta, concorda? Que bosta!

O que eu quero dizer é que nem a bosta é mais a bosta que era antes.

Antes a gente ficava apavorado quando concluía que tudo poderia acabar em bosta, lembra disso? Pois é, mas, de bosta em bosta, a bosta foi aumentando e tudo virou mais bosta ainda.

É tanta bosta, tanta bosta visível e lida, que tudo neste texto acabou virando mais bosta ainda. Não foi uma bosta?

Chega de bosta.

Semana que vem, eu prometo, não se fala mais bosta nenhuma.

Não é uma bosta?