Sexta, 26 Abr 2024

Crianças pequenas não se importam com o outro

Dra. Regiane Glashan*

Será verdade que as crianças pequenas não se importam com o outro ou com seus cuidadores?

As vezes ficamos surpresos com a dificuldade que as crianças de cerca de 2 ou 3 anos têm em demonstrar arrependimento ou embaraço por algo inadequado que elas tenham feito. Parece que elas não estão nem aí!

Temos a impressão que as crianças pequenas estão antenadas apenas em seus interesses e necessidades. Todavia, a ciência pode explicar esse fenômeno.

Vamos lá!

De acordo com recente estudo publicado na revista científica Nature Communications, somente após os 4 anos de idade é que a criança começa a ter empatia ou entender o que é se colocar no lugar do outro. A partir dessa idade, os pequenos começam a ter consciência de como o outro pode estar se sentindo e o quanto os sentimentos do outro pode influenciar os seus próprios sentimentos.

Isso se deve ao fato da imaturidade de áreas cerebrais relacionadas aos sentimentos e afeições. A região responsável por essas características se encontra atrás do lobo temporal responsável pelo pensamento sobre outros e pelos pensamentos de si próprio.

Somente aos 4 anos de idade é quando as crianças desenvolvem habilidades de empatia e melhor compreensão sobre os pensamentos e as crenças alheias. Nessa fase as crianças estão mais maduras também para entender que as pessoas podem pensar de maneira diferente.

Antes do quarto ano de idade, os pequenos são incapazes de compreender que os pensamentos poderiam existir independentemente do que eles veem e sabem a respeito do mundo.

Querem um simples exemplo?

Aos 3 anos de idade se você colocar uma caixa de chocolate sobre a mesa a criança sabe que dentro estará o chocolate e vai se espantar se dentro houver outra coisa, como alguns lápis de cera. Por outro lado, uma criança de 4 anos pode se decepcionar com o achado, mas também pode entender que dentro de uma caixa vazia de chocolate você pode guardar outros objetos.

Por outro lado, algumas mães vão descordar do texto, pois, identificam muita bondade em seus filhos de 3 anos. Há algum tempo uma cliente comentou que nunca percebeu seu filho de 3 anos tão carinhoso com ela.

Essa minha cliente estava no sexto mês de gravidez e havia comentado que o filho costumava trazer frutas ou docinhos para ela enquanto estavam vendo um filminho na TV ou até mesmo colocar uma manta sobre seus pés na hora de ouvir música para dormir.

Provavelmente os estudiosos diriam que a criança não foi empática, ela apenas "copiou" ou "imitou" um comportamento observado anteriormente efetuado por um adulto e posteriormente aprendido. Esse comportamento teria sido reforçado positivamente entre os adultos.

Não devemos ficar presos em conceitos pré-estabelecidos e achar simplesmente que antes dos 4 anos as crianças agem de maneira robótica com os outros. As crianças são espontâneas, criativas e muitos responsivas quando estimuladas. Isso quer dizer que desde cedo devemos ensinar nossos filhos a respeitar as pessoas, a cultivarem bons sentimentos para com os animais e amar o mundo que eles vivem, principalmente a natureza.

Se os pequenos antes dos 4 anos não conseguem ainda expressar empatia como nós adultos enxergamos, não devemos nos preocupar, pois, as crianças pequenas têm um código natural para ver, ouvir, entender e se comportar no mundo e isso é perceptível para qualquer pai que acompanha o desenvolvimento global de seu filho. Esse código é muito peculiar, e os preparam para a maturação emocional que vai ocorrendo até a maturidade adulta.

Vamos apenas curtir a fase tão linda e delicada que é a da criança com idade inferior a 4 anos.

* Terapeuta Familiar - Casal - Individual, ênfase na relação mãe-bebê. Especialista-Mestre-Doutora-Pós-Doutora pela UNIFESP, Fellow Universidade Pittsburgh - USA. Site: www.terapeutadebebes.com.br

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