Quinta, 18 Abr 2024

É possível se blindar das famílias tóxicas?

Dra. Regiane Glashan*

Desde a semana passada estamos abordando um assunto muito delicado - As famílias tóxicas. A cada semana estamos contemplando um tema diferente sobre as famílias que não "funcionam" como uma incubadora de afeto e responsabilidade aos seus integrantes.

Hoje nosso tema é o quanto podemos nos blindar frente a uma família tóxica. Mas será que realmente podemos fazer isso?

Depende!

Quando falamos em relacionamentos existe uma relatividade.

O que uma pessoa faz que te agride, seja física ou psicologicamente, a intensidade dessas ações e o quanto isso te afeta podem ser fatores de tolerância ou não. Inclusive é preciso levar em conta a idade das pessoas que compreende a família. Crianças não têm maturidade para blindagem e adolescentes é muito questionável. Por essa reflexão você já pode imaginar as consequências que uma família tóxica pode desempenhar em seus constituintes.

Pode ser que um dos membros agredido comece a ignorar certas atitudes ou comportamentos e se sinta melhor, ou, se tiver uma boa relação com a pessoa, pode até ter uma conversa mais franca e expor o que lhe incomoda, pedindo por uma mudança (caso raro - mas possível).

Contudo, existem casos em que a pessoa não consegue se expressar ou o diálogo é mais difícil e os comportamentos tóxicos são acompanhados de emoções como: raiva, angústia e desprezo, por exemplo. Nestas condições a blindagem é ineficaz.

Frases como "não dê bola", "não preste atenção no que essa pessoa diz", "tente não se importar com isso", "você sabe como eles são - por isso não leve a sério o que eles fazem ou dizem", "Calma! Às vezes, os pais batem, punem e falam palavras doloridas para educar ou disciplinar"; são todas elas convites à manutenção de uma situação de violência e abuso, tanto quanto de alienação em relação à realidade que os membros da família podem estar vivendo.

Quando o exercício da violência se torna cotidiano, ele também tende à criação de um sentimento de naturalização do processo, como se fosse uma parte inevitável da realidade ter de suportar e pagar o preço da brutalidade de alguém (o real sentimento de desamparo aprendido). Mas também, a violência pode caminhar no sentido de uma progressão de sua intensidade, alargando cada vez mais os níveis de exigência dessa naturalização. Por exemplo, um lugar onde gritar com outra pessoa é normal, a evolução para agressões físicas pode ser inevitável.

Nesses casos, é necessário também pensar numa "blindagem" em outro sentido, questionando que nem sempre conseguimos ser fortes para estabelecer limites, e assim, precisamos receber esse empoderamento e proteção das outras pessoas do núcleo familiar estendido, como uma avó ou tio que reside em outro domicílio.

Se a vítima, neste caso, é uma criança que sofre um abuso mental ou físico de um adulto, pode ser que ela não tenha como reagir, ou muitas vezes ela nem se dá conta da situação, embora isso possa gerar traumas futuros.

Outra situação é uma pessoa vítima de violência e as pessoas esperem que ela seja suficientemente forte para conseguir barrar essa ação. Geralmente isso não é o suficiente, por exemplo, se ela estiver em situação de dependência econômica, social ou emocional com a pessoa que exerce o abuso. Nesse caso, não basta ela se blindar, ela precisa que o grupo ao seu redor a proteja, criando um ambiente que a possibilite ter condições de dizer "não", "chega", sem correr riscos mais graves.

Até pouco tempo dizíamos "Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher!". Pois bem, hoje sabemos que é o contrário e precisamos denunciar os abusos. O mesmo devemos fazer com as famílias tóxicas, pois, alguém lá dentro pode estar correndo grandes riscos emocionais ou físicos!

* Terapeuta Familiar - Casal - Individual, ênfase na relação mãe-bebê. Especialista-Mestre-Doutora-Pós-Doutora pela UNIFESP, Fellow Universidade Pittsburgh - USA. Site: www.terapeutadebebes.com.br

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