Sexta, 26 Abr 2024

Pessoas Boazinhas acreditam que devem fazer o máximo

Dra. Regiane Glashan*

No artigo da semana passada comentamos um pouco sobre a "origem" da pessoa boazinha - onde tudo, provavelmente começou!

Entendemos que o amor condicional ou as relações abusivas podem contribuir para a pessoa se tornar "boazinha demais". Entendemos também que a criança pode, desde sua idade mais tenra, compreender que ela só é valorizada e vista quando ela agrada, se subjuga ou faz tudo para o outro se sentir bem.

Por isso, regras e crenças podem nos custar muito caro!

Por outro lado, as pessoas boazinhas perpetuam seus comportamentos, pois, de uma maneira ou de outra, elas têm ganhos secundários: mantêm as pessoas ao seu redor - são admiradas pela sua perseverança e auto sacrifício.

Aqui eu acho que vale a pena fazer um comentário: quando somos amáveis, bondosos e generosos, geralmente, as pessoas gostam de nós e nos admiram. O problema é quando isso se torna um peso, um fardo duro de se carregar. Esse fardo inclui de maneira velada a raiva (por querer fazer diferente e não conseguir), cansaço (em aceitar tudo e nunca dizer não), ressentimento (pelo outro não reconhecer nosso valor e apenas enxergar as atitudes como obrigação), falta de amor próprio (não estabelecer prioridades e não atender as próprias necessidades), entre outros.

Muitos adultos só percebem que são bonzinhos demais quando apresentam algum sofrimento emocional que lhes cause muito desconforto e alguns pais e mães só percebem que sofrem da síndrome da pessoa boazinha com a chegada dos filhos - quando eles têm a oportunidade de "sentir" a sua criança ferida, vulnerável, inconsolável e abandonada.

Como que tudo isso vem à tona?

As pessoas boazinhas são extremamente autossuficientes - elas dão conta de tudo e quase nunca pedem algo de volta (crenças muito enrijecidas). Isso eclode quando nos tornamos pais.

Observe o exemplo a seguir: "Luara é uma moça de 35 anos, casada e mãe de duas meninas (5 e 7 anos). Uma mãe e dona de casa em tempo integral. Luara também é uma filha primorosa. Sua mãe está institucionalizada há dois anos devido a demência e quase não reconhece ninguém. Num sábado, a filha de sete anos faria uma apresentação de flauta na escola em comemoração ao dia das mães. Como de costume, sábado era o dia de fazer feira, ir ao supermercado e depois ir a manicure. A clínica geriátrica telefonou solicitando fraldas. Luara, em meio a correria tentou dar conta de tudo, sem pedir ajuda e rumou à clínica com seu veículo. Por azar, no estacionamento da clínica, um carro bateu em sua traseira e ela de imediato foi dizendo: "Perdão, acho que me distraí, eu pago o estrago!". O dono do veículo falou que ele havia cometido a imprudência e que era ele quem deveria pagar pelo transtorno. Veja, Luara está tão acostumada a chamar para si os débitos que ela acionou de maneira automática seu estilo "boazinha"!

Durante nosso encontro, perguntei o motivo dela ter sido subjugada e de imediato ter aceitado uma culpa desnecessária. A resposta veio de imediato: "Preciso dar conta de tudo! Preciso dar conta do meu erro, do erro do outro e se vacilar do seu também! Esse é o meu jeito de ser e de sobreviver. Estou sempre "ouvindo uma voz: faça!". Sabe, eu sempre fui muito exigida em casa. Não tinha espaço para reclamar e se eu esboçava uma queixa eu era chamada de ingrata e que Deus poderia me castigar pelo que eu pensava, sentia e falava"!

Perguntei ainda: "Você acha que alguém que você gosta ou admira reagiria como você?". Luara me respondeu: "Acho que não! Certamente ela teria dividido as tarefas antes de sair de casa - teria pedido auxílio ao esposo!".

Moral da história, o que a pessoa boazinha precisa desenvolver é a assertividade!

* Terapeuta Familiar - Casal - Individual, ênfase na relação mãe-bebê. Especialista-Mestre-Doutora-Pós-Doutora pela UNIFESP, Fellow Universidade Pittsburgh - USA. Site: www.terapeutadebebes.com.br

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