Terça, 30 Abr 2024

Soluções e limites (Final)

Dra. Regiane Glashan*

Na primeira parte deste artigo, falamos sobre a importância dos limites claros para a criança e o quanto as emoções e os comportamentos dos pais também podem reverberar sobre as atitudes dos filhos. Falamos também sobre a importância de ouvirmos nossos filhos com empatia e depois de uma "crise" de destempero infantil como encontrar soluções.

Encontrar uma solução para um problema nem sempre é muito fácil para a criança, tendo em vista que o repertório infantil ainda é diminuto. A criança aprende com a experiência e a experiência deles - a maturidade de vida - ainda é pequena.

Assim sendo, nossa tendência é apresentar soluções prontas, impedindo que elas busquem dentro de si algo que as façam crescer emocionalmente e em atitude. Por isso, temos que ter paciência e dar "pistas" ou dicas do que poderia ser feito. E nunca a solução pronta! Precisamos ensinar a pescar e não a dar o peixe pronto!

Uma das maneiras mais eficientes que eu tenho praticado em meus cursos de Educação Parental, é estimular os pais a entrarem na fantasia das crianças. Para isso, o uso de bonecos ou fantoches para dramatizar uma situação conflitante, e, em cima dela fazer perguntas curiosas sobre a resolução do problema em questão é muito útil.

Veja esse exemplo!

Pedro é um garotinho de 4 anos que vinha sonhando com frequência com a emoção de "Nojo" do desenho animado da Pixar. Pedro achava que a qualquer momento, em seu sonho, Nojo iria vomitar sobre ele. Os pais encenaram uma historinha com bonecos e bichinhos de pelúcia e durante a encenação, Pedro trouxe à tona seu medo: "Tenho medo que a Nojo vomite sobre mim e eu fique fedido!".

A mãe, muito rápida, acionou o boneco do super-homem e trouxe a seguinte fala: "Não se preocupe Pedro! Se isso acontecer você pode se lavar e trocar de roupa. Você tem mais alguma ideia Pedro?". Pedro rapidamente sugeriu: "Claro! Onde vivemos tem muita água e roupa limpa. Se isso acontecer, o super-homem disse que é só tomar um banho gostoso e por uma roupa limpinha!". Segundo a mãe, Pedro nunca mais sonhou com a tal Emoção e nem mesmo tocou mais no assunto. Ele superou a crise!

Brincar de faz-de-conta é uma excelente estratégia para conversar sobre emoções, comportamento e resolução de problemas.

Para crianças maiores de 4 anos podemos ainda lançar mão da roda das escolhas, previamente confeccionada em casa junto com a criança. Quando seu filho estiver emburrado, birrento ou frustrado, você pode mostrar a roda de escolhas e ele apontar para algo que o tranquilize ou apazigue a sua irritabilidade. Ele poderia escolher: ir para o seu cantinho da calma, respirar fundo e contar até dez, ler um livrinho, pular corda por uns minutos, correr no jardim (quando possível), entre outras. Isso deixa a criança no controle e a ajuda a encontrar soluções para os seus problemas. Atitudes simples como essas estão auxiliando a formar os cidadãos justos e equilibrados de amanhã. Sem violência e humilhação.

Uma outra técnica que costumo orientar é a de "memórias passadas". Vamos supor que seu filho esteja pra baixo e entristecido por ter tirado uma nota baixa na escola. Traga a memória de seu filho os momentos onde ele obteve superação e boas notas. Que tudo bem tirar uma nota baixa. Que da próxima vez ele vai usar seus recursos internos e terá grande chance de se sair bem. As crianças costumam se sentir encorajadas, o humor melhora e o desejo de se auto superar aparece com dignidade de boa autoestima.

Lembre-se, que quando estimulamos nossos filhos a encontrar uma solução para um problema (mesmo que com nossa ajuda), ela deve ser justa, factível, segura e que promova bem-estar a si (e a outrem). Reassegure ao seu filho que erros são aceitáveis e são formas maravilhosas de aprendizado.

Caso a solução encontrada não funcione, mostre ao seu filho que o esforço não foi em vão e que isso faz parte do processo de aprendizado e que ajustes podem ser feitos.

* Terapeuta Familiar - Casal - Individual, ênfase na relação mãe-bebê. Especialista-Mestre-Doutora-Pós-Doutora pela UNIFESP, Fellow Universidade Pittsburgh - USA. Site: www.terapeutadebebes.com.br. Instagram: @terapeutadebebes_familia

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