Quinta, 25 Abr 2024

Sou ansioso ou estou ansioso?

Dra. Regiane Glashan*

Você sabia que o Brasil é considerado, segundo a Organização Mundial da saúde, o país mais ansioso do mundo? Temos cerca de 18 milhões de brasileiros convivendo diariamente com a ansiedade.

É claro que precisamos levar em consideração algumas reflexões do tipo: 1 - ansiedade é uma emoção universal e, portanto, normal de se sentir, 2 - ansiedade tem um efeito protetivo frente a um perigo (algo como lutar ou fugir).

Existe uma confusão quando se trata de ansiedade e medo. Muitas pessoas acreditam que medo é o mesmo que ansiedade e vice-versa.

O medo é uma resposta a uma ameaça externa e conhecida e a ansiedade é uma resposta a uma ameaça interna, vaga e desconhecida.

Todos nós podemos ficar ansiosos, mesmo porquê a ansiedade no mundo contemporâneo é vista como usual.

Ficamos ansiosos quando estamos prestes a nos encontrar com alguém muito esperado, ficamos ansiosos quando estamos na eminência de comprar algo que desejamos muito, ficamos ansiosos quando aguardamos nosso embarque rumo a uma viagem dos sonhos e ficamos ansiosos quando estamos prestes a conseguir algo muito desejado. Nesse aspecto a ansiedade pode ser vista como uma força motriz ou um "frisson" capaz de disparar um friozinho na barriga!

Quando que a ansiedade se torna patológica?

Quando ela interfere nas nossas atividades do cotidiano, nos impede a expressão da espontaneidade e nosso bem-estar geral.

O que está por trás da ansiedade?

Muitas são as causas relacionadas a ansiedade e as mais aceitas dizem respeito a redução de mediadores químicos no cérebro (noradrenalina, serotonina e ácido gama-aminobutírico), hereditariedade e comportamentos aprendidos e compartilhados em família.

Veja que interessante!

Certa vez atendi uma criança que tinha muito desconforto em acessar a escada rolante. Ela sentia as mãozinhas suadas, a boca seca e um "arrepio" na barriga. Depois de muito conversar e brincar com ela, a menininha me contou que sua avó tinha muito medo de escada rolante e que preferia subir as escadas do shopping do que andar de elevador ou escada rolante. Logo, essa criança assimilou o medo de sua avó. Claro que o problema foi superado!

Bem, a ansiedade que estou trazendo aqui é aquela que nos impede de alcançar objetivos ou metas. Aquela ansiedade que dá um branco na hora da prova, que nos faz gaguejar ou não comparecer em uma entrevista de trabalho, que nos faz desmarcar um encontro tão esperado, de falar em público e até mesmo de voar de avião ou dirigir um automóvel.

Da ansiedade que provoca sensações corporais desagradáveis (palpitação, transpiração excessiva, boca seca) e que pode cursar com doenças crônicas (gastrite, úlcera estomacal ou intestinal, doenças crônicas de pele, hipertensão arterial, entre outras).

Que motivos estão por trás do aumento nas taxas de ansiedade no mundo contemporâneo?

Certa vez li um artigo de um terapeuta e cientista chamado Robert Leahy, no qual ele dizia que a biologia era muito importante na origem da ansiedade, mas que o mundo atual era fundamental para a expressão dela. Os laços com as outras pessoas passaram a ser menos estáveis e previsíveis e que a liquidez e a volatilidade das relações nunca estiveram tão presentes como agora.

O cientista comentava que se antes as finalizações das relações requeriam um momento face a face, hoje basta apenas acessar um aplicativo de mensagens, clicar num emogi e "fim"! Além disso, as famílias estão mais dispersas, o sonho de consumo é hiperdimensionado, a criminalidade aumentou e a segurança não acompanha esse aumento.

Será que existe esperança frente a esse painel?

Primeiro, precisamos aceitar que a ansiedade faz parte da nossa biologia e que nossos ancestrais precisaram dela para assegurar a nossa existência (uma necessidade de sobrevivência - adaptativa).

Segundo, os medos de outrora não deveriam nos acompanhar mais. Contudo, nosso cérebro ainda mantém os registros de sobrevivência - nossa biologia instalou um software em nosso cérebro e se esqueceu de atualizá-lo. Cabe a nós fazê-lo, então!

Portanto, se quisermos nos libertar da tirania da ansiedade, teremos que questionar algumas de nossas regras desatualizadas de nossa biologia de sobrevivência, bem como as crenças que nos paralisam. Claro que nem sempre isso é possível de se fazer sozinho e é nesse momento que os profissionais de saúde devem ser acessados.

E aí, você acha que você é um cara ansioso ou tem momentos que você sente ansiedade?

* Terapeuta Familiar - Casal - Individual, ênfase na relação mãe-bebê. Especialista-Mestre-Doutora-Pós-Doutora pela UNIFESP, Fellow Universidade Pittsburgh - USA. Site: www.terapeutadebebes.com.br

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