Segunda, 29 Abr 2024

Sou uma mãe a beira de um ataque de nervos

Dra. Regiane Glashan*

Esta semana, em particular, eu recebi uma série de comunicações de mães, referindo o quanto elas estavam se sentindo sobrecarregadas, infelizes e ao mesmo tempo culpadas por não estarem dando "conta do recado".

Pelo relato da maioria delas, eram mulheres batalhadoras, com muita vontade de ter seu lugar reconhecido no mundo e muito afetuosas com seus filhos e com a família em geral.

Algumas referiam que se sentiam cansadas pelas múltiplas jornadas de trabalho: fora de casa e dentro de casa. Outras diziam que estavam a ponto de explodir, mesmo contando com a "ajuda" dos parceiros e até mesmo de algum familiar. Porém, na maior parte do tempo as responsabilidades eram delas.

Em adição, entre vários relatos, li o desabafo de uma mulher que tinha três filhos na faixa da adolescência (14 anos, 16 anos e 17 anos) e que nenhum deles conseguia ter um papel especifico dentro do lar, pois, o tempo tinha que ser dividido entre as aulas extracurriculares, preparo para o vestibular e ao mesmo tempo serem jovens. Essa mãe se sentia consternada em pedir alguma forma de ajuda em casa e, na maior parte das vezes, os poupava assumindo tudo para si.

Uma dessas mulheres chegou a contar que um dia foi deixar seu filho de 8 anos na escola de inglês e quando percebeu estava parada em frente ao supermercado, pronta para fazer a compra do mês e com a criança ao lado. Ela disse que se sentou num banco, perto da entrada da loja e chorou copiosamente por um bom tempo. Seu filho a abraçou, disse que estava tudo bem, que ele era muito esperto e que aquela aula perdida não iria fazer falta para ele. A mãe o beijou, agradeceu e finalizaram com uma boa risada. Mas nem sempre as coisas terminam leves assim!

O tempo todo a sociedade e a própria mulher cobram que a Mulher seja a "Poderosa" (pra não dizer outro termo)!

A mulher deve dar conta de seu trabalho dentro e fora de casa, cuidar dos filhos com primor, ser uma boa esposa e amante, e caso não durma à noite por causa do bebê (mamadas noturnas, cólica, alguma doencinha, etc.) ela precisa acordar de bom humor e com muita disponibilidade no(s) dia(s) seguinte(s). Afinal é esperado que ela se dedique de corpo e alma sempre! Isso é que é ser uma boa mãe e compatível com as necessidades de seu filho.

Isso sem falar nas mulheres monoparentais! Essas não são Super! Essas Mulheres são hiper, mega blaster mulheres e com cobranças desumanas!

Mas espera um pouquinho!

Será que isso é justo?

Será que em alguns momentos não precisamos sair do piloto automático, rever nossos conceitos, regular nossas necessidades emocionais e físicas básicas e não termos vergonha de colocar ordem na bagunça e pedir a justa colaboração?

Primeiro de tudo, homem/pai/parceiro não ajudam. Eles são membros compatíveis e proporcionais dentro da família, e, como tal são agentes colaboradores e com atividades proporcionais as de suas parceiras.

Segundo, os filhos, levando-se em conta o desenvolvimento maturacional e a faixa etária, podem contribuir em casa sim. Isso não é um favor, isso não é exploração infanto-juvenil e isso é respeito por todos que vivem dentro de uma casa - cada um tem sua função e seu "poder" de colaboração. Não vou me ater o que pode ser feito por período etário em casa, pois, já fiz isso em alguns artigos anteriores.

Finalmente, a mulher precisa se despir de sua capa de Super e reconhecer que ela não precisa ser perfeita. Que ela pode pedir ajuda e colaboração - que as falhas vão ocorrer no meio do caminho e isso faz parte da vida. Falhar faz parte do processo existencial e é com os erros, seguidos de acertos que damos tom, singularidade e beleza a vida. Além disso, quando trazemos todos os membros da família para o centro das responsabilidades familiares, mostramos a cada um dos integrantes que todos são importantes para a dinâmica familiar e que a casa funciona melhor quando cada um traz sua parcela de colaboração.

Numa relação conjugal, cada parceiro precisa ocupar seu lugar na conjugalidade e na família e quando houver dúvidas quanto ao desempenho de cada um, os mesmos precisam parar, conversar e aparar as arestas.

Nós, pais, só poderemos ensinar nossos filhos a serem bons cidadãos, a exercerem a humanidade e serem gente de carne e osso quando mostramos com nosso comportamento e não com mil palavras o que é o certo, o que esperamos de cada um deles e que ninguém precisa se dar em sacrifício para ser reconhecido, amado e respeitado. E isso é independente do sexo!

Pronto! Falei!!

* Terapeuta Familiar - Casal - Individual, ênfase na relação mãe-bebê. Especialista-Mestre-Doutora-Pós-Doutora pela UNIFESP, Fellow Universidade Pittsburgh - USA. Site: www.terapeutadebebes.com.br. Instagram: @terapeutadebebes_familia

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