Falando com pássaro
O que é que você faria se eventualmente visse, de perto, cara-a-cara, um Beija-Flor? Isso mesmo, um pássaro Beija-Flor. Bem pequeno, minúsculo, todo assustado, parado ou pendurado, sei lá como, em um galho de planta do meu quintal.
Fiquei sem saber se cantava, assobiava, se dançava, ou o que faria? Ana Maria, minha mulher, foi quem descobriu o danado. Um filhotinho. Talvez em seu primeiro voo.
Deus do céu! Corri para ver.
Enquanto corria, olhava para todos os lados preocupado para ver se algum dos gatos ou gatas aqui de casa estariam por perto. Não estavam.
Respirei aliviado. Fiquei ao lado do bichinho sem saber se falava, se gritava, se calava, se cantava, ou que diabos faria. E o bichinho ali, cara-a-cara comigo, também e certamente sem saber o que fazer.
" Beleza pura! "
Um filhote. Filhotinho. Menor que o meu pensamento. Gelei.
Eu olhava para o bichinho e o bichinho olhava para mim. Pensei que ele fosse sair voando e sei lá o que mais. Só que ele não reagia. Ficava me olhando do mesmo jeito que eu olhava para ele. Minha mulher já tinha saído de perto como se nada tivesse acontecido.
Eu continuava apavorado. Fazer o quê? Pegar o bichinho no galho da arvorezinha e colocar no chão? Pô, o chão não é lugar para os pássaros. Pássaro quer saber mais é de voar. Voar como todos os pássaros, não é como dizem?
E eu ali, com o bichinho em frente. A arvorezinha onde ele estava até que é bem baixinha. Tanto que eu falava com ele, o bichinho, no tipo "cara-a-cara". Isso mesmo: "cara-a-cara".
" Nossa! O que fazer? "
Para ser sincero, eu estava mais apavorado que ele. Pelo tamanho do bichinho, pelo jeito, com certeza era criança. Pássaro bem miúdo, bem criança mesmo. E eu mais criança ainda, pois estava mais assustado que ele.
Os pássaros estão entre os bichinhos que eu mais adoro e menos entendo, além, claro, de não entender coisa nenhuma sobre coisa alguma.
O que fazer? Pego o bichinho, coloco numa gaiola? Levo a gaiola pra dentro de casa? E qual seria a reação das minhas gatas? Vai que elas pensassem em brincar com o pobre passarinho. Sim, eu digo brincar, pois as minhas gatas adoram ficar brincando com bichinhos de pelúcia, de plástico ou coisa assim.
O pobre passarinho seria um "brinquedão" para elas.
" E agora? "
Parei para pensar e lembrei que bicho é bicho, gato é gato, gata é gata, tudo mais ou menos quase igual ao bicho-homem, que indiscutivelmente é o bicho mais perigoso da natureza.
Bicho-homem é pior que tigre. Pior que leão. Mais ou menos tão pior quanto uma cobra.
Já pensou numa cobra andando atrás de você? Ainda bem que cobra não anda, se arrasta, não é? É, mas em um arrastão desses, numa picada daquelas quem vai pro beleléu é quem foi picado. E nada pode garantir que sobreviva. Eu, hein?
" E eu ali "
Mas estava ali, cara-a-cara com o pobre passarinho. Que me olhava curioso. Tão curioso quanto eu. Que cheguei até a pensar em conversar com ele. Pelo menos tentar me entender com o bicho, já que, além do Português, falo muito pouco de inglês, pouco de italiano, pouco de francês, pouco de caboclês e por aí vai.
E eu iria falar o quê? Perguntar o quê? Como já dito, eu estava diante de um filhotinho de pássaro. Se a gente, eu, no caso, não consigo me comunicar com um pássaro já adulto, como iria conversar com um pixotinho daqueles?
A gente ficava trocando olhares. Pensei em acariciar suas peninhas, sei lá Queria que ele soubesse que era muito importante para mim. Queria que ele até pensasse em ficar pra sempre aqui no meu quintal. Eu arranjaria uma casinha pra ele.
" Que tal uma passarinha? "
Com o tempo, quem sabe ele em uns voos por aí conquistasse uma passarinha bem bonitinha, igual a ele. Sei lá, minha casa é a única da rua que tem árvores frondosas, cheias de galhos, de folhas, de flores nas épocas certas. Certamente têm tudo o que os passarinhos gostam. Até eu gosto. E muito.
Adoraria que o bichinho topasse ficar. Mas, enfim, a vida é isso. Como eu não sei falar o "passarinhês", com certeza ele, o pequeno bichinho não entende o Português.
Talvez nem o Inglês. Ou Francês, idiomas que eu arranho, coisinha pouca, afinal já virei o mundo, já estive lá no Polo Norte e no Polo Sul. Além do outro lado terrestre.
" Tentando"
Ao fim, depois de muito olhar, muito tentar falar, tentar cantar, tentar-tentar e tentar tudo o que fosse possível para conversar ou dizer ao bichinho que ele era sempre bem-vindo aqui em casa, nas minhas árvores, no meu pedaço, eu saí de perto e deixei o danadinho curtindo o sol, as plantas, as árvores, o meu chão.
Deixei claro que ele era sempre bem-vindo. Até marquei o pequeno galho onde ele estava e que passou a ser dele.
Daqui a pouco vou até lá para saber se ele ainda está plantado na sua árvore. Eu vou adorar se estiver.
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