As crianças são excelentes imitadoras

O cérebro da criança é extraordinário. Sou suspeita em falar sobre o assunto, pois tudo que diz respeito ao desenvolvimento infantil me deixa perplexa, principalmente pela perfeição com que tudo acontece. Mas neste artigo quero falar sobre a capacidade que o cérebro da criança tem de absorver informações.

Vocês certamente já ouviram dizer que as crianças são uma esponja? E posso afirmar que realmente é. O que ela ouve, vê ou vive, ela absorve. Essa capacidade de absorver vem de duas habilidades importantíssimas para o aprendizado, observar e imitar. E pode acreditar, elas observam tudo que acontece ao redor delas. Quantas vezes seu filho disse algo e você pensou: "Mas onde ele aprendeu isso?". E o pânico maior é quando esse comportamento não foi aprendido dentro de casa.

O fato da criança reproduzir o que ela experiencia no dia a dia nos dá um pouco de medo, não é mesmo? Mas calma, os ensinamentos dentro de casa, da família, ainda são os que costumam ter mais força no desenvolvimento de uma criança. A família é um pilar muito importante no desenvolvimento infantil, pois é neste ambiente que ela aprenderá sobre valores éticos e morais, regulação emocional, motivação e todas as ferramentas mais importantes para sua vida.

Trabalhei em uma creche há alguns anos e estava matriculado ali um menininho de 3 para 4 anos. Esse menino tinha um comportamento violento, inclusive com as professoras. Um dos comportamentos que mais nos deixou desestabilizadas foi quando ele começou a "encoxar" as coleguinhas na parede e chamá-las de "gostosa". Vamos refletir sobre isso! Estamos falando de uma criança muito, mas muito pequena, com comportamentos de adultos. Certamente ela presenciou isso em algum lugar e apenas estava reproduzindo, pois não tinha desenvolvimento cognitivo suficiente para entender o que aquilo significava. Tomamos todas as providências para que isso não voltasse a ocorrer, enfim!

Trouxe esse exemplo bem crítico para que fique clara a gravidade de deixar crianças expostas em ambientes de adultos. Algumas pessoas ainda acreditam que a criança não está prestando atenção ou não entende nada. Realmente, provavelmente ela não entende, porque é uma péssima intérprete, porém é justamente por isso que ela irá reproduzir o comportamento aprendido, seja uma fala, um gesto ou qualquer outra coisa a qual foi exposta.

No caso do menininho que citei, ele estava em situação de acolhimento, havia sofrido todo tipo de negligência por parte da família, sendo exposto a coisas impensáveis para uma criança, sendo assim não é difícil traçar um raciocínio para compreender de onde veio tal comportamento na escola. É óbvio que esse menino não fazia interpretação dos comportamentos aprendidos, apenas reproduzia.

É aqui que as famílias acabam se perdendo. A criança ainda não tem a capacidade de fazer um juízo moral e ético da situação porque é imatura em todos os sentidos, biologicamente, emocionalmente, psicologicamente e cognitivamente.

Os seres humanos têm a capacidade de gerenciar informações, entender causa e consequência, e internalizar regras. A parte do nosso cérebro responsável por tudo isso é o Córtex Pré-Frontal, uma parte bastante complexa que só termina de se formar lá pelos 30 anos.

Tendo dito isso, quero deixar duas orientações fundamentais:

1 - Precisamos prestar sempre muita atenção em como agimos e o que falamos perto das crianças. Elas estão absorvendo TUDO. Inclusive o que elas assistem ou têm acesso!

2 - Temos de entender que crianças estão em formação constante e não devemos rotulá-las por conta de comportamentos disfuncionais (o garotinho não é uma pessoa ruim, ele precisa ser orientado e ensinado).

O alerta aqui é sobre a importância de prestarmos atenção em tudo que as crianças têm acesso, não é exagero, é um fato! Lembre-se, elas são excelentes imitadoras, porém ainda não têm a capacidade de analisar e interpretar as situações corretamente. Converse, oriente e principalmente, analise seu próprio comportamento, o que você está ensinando para a criança através de suas ações?

* A autora é Neuropsicopedagoga e Psicopedagoga Clínica, Pedagoga com Habilitação em Administração Escolar, Especialista em Intervenção ABA no Autismo e Deficiência Intelectual, Professora/Formadora em Educação Inclusiva, além de Coach Pessoal, Profissional e Líder Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Analista Comportamental Disc pela Gestor Performance. Possui experiência de mais de 20 anos na área, atuando no âmbito escolar, clínico, empresarial. Contatos: E-mail: crissaraguci@hotmail.com. Instagram: @neuropsicocristianesaraguci. Facebook: @neuropsicocristianesaraguci. Site: www.cristianesaraguci.com.br