Bendito seja o joelho ralado e o “merthiolate” que ardia!

Os tempos mudaram, muitos estudos e conceitos surgiram no meio educacional. Quais as responsabilidades da escola? Quais as responsabilidades da família e comunidade? É uma discussão importante e relevante, pois, aparentemente, os papéis se misturaram. Alguns equívocos surgiram neste processo e a escola brasileira de hoje colhe frutos amargos. A escola jamais conseguirá educar uma criança, no que diz respeito às responsabilidades familiares, jamais! É cada um no seu quadrado, como diz o dito popular.

Hoje a escola se preocupa com o desenvolvimento integral de seus alunos, o currículo foi desenhado conforme os quatro pilares para educação no século XXI: aprender a conhecer, aprender a ser, aprender a conviver e aprender a fazer. Entre esses pilares temos as habilidades socioemocionais, que passaram a fazer parte do currículo. O problema é quando o essencial da escola é negligenciado, reduzido, deixado de lado. O papel da escola e a sua responsabilidade primordial é dedicar tempo nas disciplinas fundamentais, por isso o nome atual "ENSINO FUNDAMENTAL I".

Às famílias e comunidade cabe a formação do caráter. A educação formal, principalmente na primeira infância, pode REFORÇAR e muito raramente compensar ou corrigir deficiências da formação da família. E só conseguirá sucesso quando suas rotinas e práticas refletem esses valores. As crianças observam o nosso comportamento e aprendem com eles, sendo assim é a integridade dos educadores e o reflexo dessa integridade nas suas práticas usuais (o currículo vivido na escola) que podem contribuir para a formação de caráter e de sua consolidação.

Os exemplos estão aos montes nas escolas, por maior que seja o esforço da escola para tentar "salvar" alguns, ela não vê resultados consistentes porque jamais conseguirá substituir ou compensar o que a família deveria ensinar, ou melhor dizendo, o que a família vem ensinando, porém totalmente contrário ao que se entende por valores e virtudes. Os comportamentos dessa comunidade primária chamada família têm um poder enorme no desenvolvimento do caráter do indivíduo, ou seja, nas habilidades socioemocionais.

Bendito seja o joelho ralado e o merthiolate que ardia, porque é preciso ralar muito o joelho para se formar um caráter. É preciso aprender a lutar, inclusive para conquistar direitos. É preciso aprender a conviver e aprender com as derrotas e frustrações. Nas orientações parentais falo muito sobre as obrigações que são da família: zelar pela saúde, educação e segurança dos filhos. Nos tempos atuais, a segurança inclui o acesso à internet, a vigilância referente aos conteúdos assistidos, os tipos de pensamentos e valores que seus filhos estão tendo acesso do que chamamos de "influenciadores".

Ou seja, as famílias precisam ter a segurança de que o essencial que os filhos precisam é serem protegidos, terem comida e algumas mudas de roupa. O resto, ela tem que aprender a conquistar. Ela precisa aprender que as coisas não vêm fácil, que ter comida na mesa significa que alguém está "ralando", dedicando horas do seu dia ao trabalho para que ela tenha o que comer, vestir e, inclusive, acesso ao Wi-Fi. Se a família cumpre com o seu papel, ela não terá dificuldades em dizer "não", em apresentar para a criança a vida como ela é, que a frustração faz parte da vida e como diziam antigamente "chorar limpa os pulmões". Caráter e casco grosso para enfrentar as dificuldades da vida é responsabilidade da família ensinar, por isso, bendito seja o joelho ralado e o "merthiolate" que ardia!

* A autora é Neuropsicopedagoga e Psicopedagoga Clínica, Pedagoga com Habilitação em Administração Escolar, Especialista em Intervenção ABA no Autismo e Deficiência Intelectual, Professora/Formadora em Educação Inclusiva, além de Coach Pessoal, Profissional e Líder Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Analista Comportamental Disc pela Gestor Performance. Possui experiência de mais de 20 anos na área, atuando no âmbito escolar, clínico, empresarial. Contatos: E-mail: crissaraguci@hotmail.com. Instagram: @neuropsicocristianesaraguci. Facebook: @neuropsicocristianesaraguci. Site: www.cristianesaraguci.com.br