Parado num canto
"Não mi preguntes, purquê naum sei".
Mas eu sei. Sei sim, pois era assim que ela falava, ou pelo menos assim é que eu entendia. Só não sei como é que ela escrevia.
De qualquer forma, a gente sabia sim, e entendia, o que Dona Olinda Borges Louzada, minha avó dizia.
Nossa! - estou rimando tudo o que escrevo hoje
Tudo bem, vale a pena. Afinal, estou falando da saudosa Dona Olinda Borges Louzada, minha avó, portuguesa lá de "Trás Os Montes", um lindo lugar de Lisboa, terra de vinhos, de uvas, e de se querer bem. Inclusive acho que ela, minha avó, era descendente dos Borges, produtores dos renomados vinhos Borges, de Lisboa, claro.
Nunca os vi e nem os conheci. Já bebi, e muito, o vinho Borges. Ir a Portugal e não beber um bom vinho não é para quem tem bom gosto.
"Conheces Lisboa, ó pá?" - pergunto da mesma forma como diriam os portugueses. Claro que a linguagem é a mesma, a pronuncia é que varia. Aqui se fala de um jeito, em Portugal, se fala de outra maneira, sei lá. Sei que até o "Português falado" - eu me refiro à língua falada por eles - é mais ou menos a mesma. De mais a mais, o Português é deles e é falado do jeito deles, sabe-se lá a quantos mil anos, talvez séculos.
" É lindo o Portugal "
Tenho o país no coração e nos meus sonhos. Minha mãe era portuguesa de nascimento e veio ao Brasil no colo dos meus avós que deixaram Portugal tantos anos faz, e até se deram bem no Brasil. Tão bem que até eu estou por aqui, "Ó pá!!!", como diriam eles.
"Portugal, meu avozinho!" - como dizem orgulhosos descendentes da raça. Mas, enfim, vamos tocando em frente porque é pra frente que se anda, como diria o carroceiro que nos tempos antigos serviam de condutores de carroças ou carruagens. Bonito esse pedaço, não? Pois é, o mundo é cheio de coisas lindas.
Tem também, claro, coisas horríveis que, a bem dizer, nem vale a pena citar. Falo dos políticos, falo dos que não fazem nada, falo dos que vivem da miséria dos outros, falo dos que só falam, mas não fazem nada. E falo por escrito. Se é que qualquer um deles eventualmente leia este escrito.
País tão rico como o nosso com um povo tão pobre quanto tantos pobres existem por aí. Vivendo até sem comer, enquanto outros comem de tudo sem deixar nada para quem precisa. Vou reclamar para quem? Aqui se fala demais e se age de menos. Nem sei porque estou dizendo tudo isso, esse tudo isso que já foi tão dito, tão reclamado, tão pedido, tão sugerido, tanta gente mandando e tanta gente sofrendo. E não sou só eu quem reclama, são tantos e milhares, talvez milhões, como são milhões os que passam fome.
" E agora? "
Mas, enfim e, entretanto, é o que se tem para viver ou para sofrer. Como é que se conserta isso? Alguém sabe? Alguém quer? Alguém topa? Eu sei lá.
Teria tanta coisa para dizer e, além de tudo o que já disse nos tantos tempos que já vivi, já escrevi, já falei, já ponderei, já xinguei. Acho que tanto quanto você, meu caro amigo e leitor, igualmente sofredor.
Eu só sei que sinto muito. E muito mesmo. Saber de tanta miséria, tanta safadeza, tanta roubalheira, tanto diz-que-diz e o tanto que não se faz nada.
Acho que estou ficando com dó até de mim, que falo, falo, falo há tanto tempo, digo, digo, digo, há mais tempo ainda e escrevo, escrevo, escrevo e denuncio, denuncio e denuncio sem solução nenhuma.
" Calo-me "
Sim, talvez seja melhor eu calar a boca. Assim, de boca fechada, sem escritos e sem nada, eu não perturbo a tantos que sofrem como eu tanta safadeza, tanta imposição, tanta irresponsabilidade, tanta coisa mal feita.
Isso aí. Me calo. E hoje nem escrevo mais. Vou ficar parado num canto, torcendo para alguma coisa mudar.
Quem sabe?
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