Uma solução deslavada (ou: perdido por perdido, truco!)
Como diria o Artur, meu carteiro favorito, o mundo mudou tanto que ninguém mais sabe onde ele mora. Vai ver está tão perdido quanto nós, sem nexo causal, tão ilegal e sem endereço certo. Hoje já não se tem nem mais a tal da inversão de valores, pois os valores que andavam por aí já se desinverteram todos e se esconderam tão mal escondidos que nem as mãos dos bandidos conseguem ocultar ou apalpar. Mas, se tiver que apalpar, por favor, apalpe sem sacanagem, mano. E tome cuidado porque tá todo mundo espiando através das câmeras escuras, está claro?
Diante de tanta insalubridade os tantos quantos bandidos brasileiros já se tornaram tão pés de chinelo que andam descalços para ninguém perceber o mau cheiro. Os mais famosos usam tornozeleiras eletrônicas das mais sofisticadas. O problema é que a fila nas lojas, nos tribunais e nos presídios atrás das tornozeleiras é tanta que já proibiram os grandes assaltos aos cofres públicos imorais e outrora tão notórios. Como se tem visto, ninguém quer sair da moita e já não se tem mais nem onde obrar direito.
"não se pode mais obrar"
O povo, dizem os mais desprendidos (eu falo dos mais soltos, claro), perdeu a moral não se sabe onde e nem quando. Se é que alguma vez já teve alguma. A coisa anda tão feia quanto os malfeitos naquele filme da sexta-feira treze (tinha que ser o treze). Era sim. Acho que o diretor principal era o Lula, que também servia como ator, criador, ascensorista e iluminador. Além de tudo, ele era o lanterninha do cinema. O cara sempre foi um iluminado. Até que a luz se fez e foi quase todo mundo em cana. De formas que, a partir daí ficou até difícil falar mal dos políticos, afinal de contas já se falou mais, muito mais do que tudo sobre eles, provados e reprovados e nada aconteceu no campeonato de xadrez público. Faltam tabuleiros nesse jogo de xadrez. Ou xadrezes nesse jogo de tabuleiros. Pior ainda, o povo emburreceu tanto que, se antes mal sabia falar, hoje em dia nem pia. Nas escolas, nas ruas, campos e construções, como diria Vandré, ninguém mais sabe falar, nem bem, nem mal, apenas balbuciam, pobre Português, não o da esquina, claro. Falam mal inclusive e piormente os faladores de notícias mal transmitidas pela TV. É tudo tão mal rimado e triturado que mais parece um funk pornográfico, como se o funk fosse um passo ou um gingado indigno de aparecer em revistas e filmes de sacanagem. Funk desnaturado com batida de samba. Isso quando tem. Quando não tem vai pura mesmo.
"vai pura mesmo"
Falar mal dos políticos que, tanto quanto o povo, ou pior ainda, igualmente não sabem nem falar é falar pouco ou ficar calado. Na verdade os políticos só sabem conjugar verbos roubados, tomados, tirados, afanados desavergonhadamente dos dicionários da sacanagem universal. Fora a sacanagem nacional, local e regional, altamente desproporcional. E é geral.
A coisa anda tão feia que já tem político propondo acabar com o povo definitivamente. Ficariam só eles, os políticos, e por que não? O povo não presta mesmo. Nem para cobrar. Povo só serve para pagar. E olhe lá, que alguns nem isso. Tem políticos tão ordinários, tão sem vergonhas que, com o tempo até acabam se tornando extraordinariamente honestos. Tão honestos que chegam a ser expulsos dos congressos nacionais e até mesmo internacionais da malandragem pura e simples, além das mais complexas, claro. O povo nem isso. O povo foge das escolas e vai pras quadras de samba ou pior ainda.
Pois, feito um político com esse perfil, não tão gordo e nem tão magro, nem tão cabeludo e nem tão careca, nem tão ladrão e nem tão honesto, nem tão sem-vergonha e nem tão desavergonhado, nem tão liso e nem tão alisado, nem tão flamenguista e nem tão gremista ou corintiano, nem tão paulista e nem tão baiano é que eu me proponho a sair por ai como um Diógenes, aquele, com uma lamparina nas mãos (fala sério, você acha que no tempo do Diógenes os caras já tinham lâmpadas ou holofotes ou lanterninha nos cinemas? Nada. Era tudo escuro, tão escuro como o futuro nacional). Então, voltando às lamparinas, eu, feito um Diógenes, um Sócrates, um Zico, um Maradona ou um qualquer desses merdas que se dizem jogadores de futebol da atualidade, já que não se tem dinheiro nem pra lamparina, vou eu mesmo nem sei pra onde e nem sei pra quê.
"estou indo nem sei pra onde"
Vou e sou contra tudo e tudo em nome da bagurança nacional. Toquem os hinos, soem as trombetas, pois eu vou mesmo. Vou propor uma espécie de hegemonia nacional, sendo que nem desconfio do que queira dizer essa tal de hegemonia, afinal de contas, as contas e tudo não passam de palavras ao vento, deixando claro que nem o vento suporta mais tantas palavras que jogam pra ele. Tanto que já decidiu jogar e soprar sozinho.
Mas, voltando ao ponto, feito discurso de político, confesso que esqueci o que dizia e nem sei se era para lembrar alguma coisa. Sim, lembrei, lembrei que o que eu queria mesmo era lembrar que certas coisas precisam ser esquecidas definitivamente. Talvez todas as coisas, como diriam os intelectuais. Quando um intelectual nativo (não é coisa de índio não) quando um intelectual fala a terra treme. De medo. Ou de vergonha. Intelectual nunca pisou na terra. Se pisou, pisou para abafar. Intelectuais e políticos andam sempre um metro acima. Não sei acima do quê, só imagino A diferença é que os intelectuais só roubam ideias, os políticos roubam o resto E por falar em roubar, agora me lembro da proposta que eu tinha para ofertar aos brasileiros em geral, já que das arquibancadas pra cima o ingresso é bem mais caro.
"tem pior das hipóteses?"
A ideia que eu tinha vai no sentido de nos unirmos, com hegemonia ou sem hegemonia mesmo e sairmos por aí catando cacos e gravetos, juntando o que sobrou de nós, essa tranqueira toda que ficou espalhada no merdel da história afora e o tudo que restou, se é que sobrou alguma coisa. Sabem o que eu faria com tudo isso? Pois lhes digo.
Unidos, juntos e bem acompanhados, catando tudo o que resta e que ainda presta, usaremos as mãos, os pés, as pás, as picaretas (repare que eu escrevi "as" picaretas e não "os" picaretas) e, de novo, juntos, bem acompanhados, sem brincadeira, falando sério, juntaremos o que sobrou do nosso infortúnio para construirmos pelo menos umas cem cadeias, cem presídios, ou mil, de altíssima segurança para abrigar não só o cumpanhero, mas todos os seus asseclas, seus parceiros, amigos, correligionários e mais os amigos de todos eles, todos os caras levados da breca que também ajudaram a nos deixar nessa tanga nacional e irresistível.
Na pior das hipóteses a gente se junta, a gente se ajunta, a gente faz uma vaquinha nacional ou internacional e mete uma tornozeleira em cada um deles. Mesmo que se tenha que pagar o resto da vida a mensalidade que a fábrica cobra para manter a todos com tanta tornozeleira. Para completar a gente mete uma tornozeleira até na canela do dono dessa fábrica de tornozeleiras. Esse é o cara que deve estar ganhando um montão de grana às custas de tantos tornozelos ladrões existentes no meu país. A pátria estará salva. Vão roubar assim lá em Brasília, meu.
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