Quinta, 25 Abr 2024

O papel das emoções na aprendizagem

Cristiane Fernandes Esteves Saraguci*

O entendimento de emoções, cérebro e cognição passou por várias reformulações até chegar ao conceito atual de aprendizagem efetiva. A neurociência é categórica em afirmar que não existe memória sem emoção. As emoções são o combustível para a aprendizagem e para a criatividade. As ondas cerebrais se sincronizam com a emoções, e assim o conhecimento se constrói.

Segundo a neurociência das emoções nós aprendemos efetivamente a partir das emoções positivas, e "reduzimos a marcha" se o ambiente ou o processo de ensino for passado sob ameaças, pressão ou excesso de cobranças ou se ele for pouco valorizado na escola, em casa ou na empresa.

Outro ponto é que nós aprendemos melhor quando o conteúdo se encaixa em nossa experiência, em nosso cotidiano, além de possuir um significado e conseguirmos utilizá-lo na prática.

Existe diferença entre emoção e sentimento, e é importante diferenciá-los.

Enquanto emoção é um estado "interior", em que experimentamos a emoção, o sentimento é voltado para o "exterior", é o efeito da emoção interna que se exterioriza.

Infelizmente alguns modelos educacionais ainda insistem em trabalhar e entender a emoção e a razão de formas separadas, resultando em modelos não eficazes de aprendizagem. Como eu disse em parágrafo anterior, ambos formam uma rede em conjunto, portanto não faz sentido trabalhar de forma separada.

É bom ressaltar que quando falo em aprendizagem, não me refiro apenas ao ambiente escolar, mas sim a qualquer situação em que se busque transmitir algum conhecimento, seja na escola, em casa, no ambiente profissional, na igreja, ou qualquer outro.

Aliás, as empresas são verdadeiros sistemas de aprendizagem, algumas empresas investem muito em desenvolvimento humano, criando ambientes favoráveis e ideais para a aprendizagem e para o compartilhamento de conhecimentos e de habilidades entre seus colaboradores.

Quando olhamos para o mundo business vemos altos investimentos em treinamentos, sejam externos ou internos, criando ambientes pensados estrategicamente para despertar emoções positivas e com isso favorecer a aprendizagem. Como exemplo de recursos utilizados pelas empresas, temos o uso de jogos, dramatizações, benchmarking, job rotation, participação em projetos, coach, palestras, e muitos mais. Outra estratégia são os ambientes de descompressão, com decorações divertidas, lugares confortáveis para se sentar, jogos de vídeo game, objetivando o relaxamento no meio da rotina. Entre as empresas que usam essa estratégia estão a Uber, Cognizant, Edenred Brasil, Dextra, Braspag do Grupo Cielo, B2W Digital, Neoway, Hotmart, Banco Votorantim, Nubank, ArcTouch, Loggi, Quero Educação, IFood, entre muitas outras.

Veja, qualquer que seja o ambiente, a emoção funciona como um sinalizador sobre o que nos afeta, bem como estabelece a meta para alcançá-la. Já a cognição é o que dá sentido à nossa experiência. O papel da razão é auxiliar a imaginar a melhor maneira de alcançar a meta.

Bom, acredito que ficou claro o que favorece emoções positivas, não é mesmo? São o entusiasmo, a energia, o significado, o propósito, o sentido, a descontração, além de enxergarmos como aplicar o conhecimento na prática. O conhecimento jamais deve ser visto apenas como uma tarefa, profissão ou orientação específica. Além disso, o canal para o diálogo precisa estar sempre aberto, pois nós aprendemos uns com os outros, portanto todos precisam se sentir à vontade para expor suas dúvidas e questionamentos.

E não esqueça que o nosso momento de vida também conta muito nesse processo, pois quando estamos vivendo em um momento de estresse ou em um ambiente restritivo, ameaçador ou que não valorize o aprendizado, é inevitável que emoções negativas acabem tomando conta e com isso nosso aprendizado e motivação vão para o espaço.

Caro leitor, temos um grande desafio pela frente, ainda mais agora, em uma pandemia, pois já vínhamos caminhando para o incentivo ao egocentrismo, onde as relações sociais são cada vez mais substituídas pela tecnologia. Viver nesse mundo está cada dia mais estressante e desafiador, onde a falta de tempo é prerrogativa comum a quase todas as pessoas, que estão sempre alertas e aceleradas. Refletir sobre os questionamentos acima e propor alternativas para um aprendizado efetivo envolvendo as emoções tornam-se essenciais, aproveitando inclusive os bons exemplos de quem já faz isso de forma eficiente e efetiva no dia a dia.

Finalizando, no passado, quando falávamos em estudar e compreender as emoções só nos passava pela cabeça categorias profissionais específicas, como a psicologia, psiquiatria ou neurologia, hoje não! Todos que trabalham com o ser humano, sendo educadores, treinadores ou gestores, precisam dominar esse processo, visto que as competências emocionais trabalham em conjunto com as competências cognitivas. O desafio é conhecer tais competências, acessá-las e, assim, promover o aprendizado, num processo constante e que não termina nunca.

* A autora é Neuropsicopedagoga e Psicopedagoga Clínica e Institucional, Pedagoga especialista em Administração Escolar, Coach Pessoal, Profissional e Líder Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Analista Comportamental Disc pela Gestor Performance. Possui experiência de mais de 20 anos na área, atuando no âmbito escolar e clínico, como também no mundo business como Coach, palestrante e desenvolvendo pessoas. Contatos: E-mail: crissaraguci@hotmail.com; Instagram: @neuropsicocristianesaraguci; Facebook: @conexãodoaprender e Blog: https://conexaodoaprender.home.blog/

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