Você já ouviu falar em Baby Blues? (Parte 2)
Vamos continuar a falar sobre baby blues, nosso artigo da semana passada deste jornal.
Para alguns estudiosos do assunto, os culpados da turbulência emocional das mulheres recém paridas seriam os hormônios femininos em queda rápida. Todavia, como explicar a mãe de bebês prematuros que, muitas vezes, só levam seus filhos para casa após uma, duas ou mais semanas pós-parto e até então não apresentaram os sintomas do baby-blues? Não nego a tristeza que elas sentem por não estarem com seus bebês nos braços.
Passado o período de hospitalização do bebê, ambos (mãe-bebê) retornam ao lar e sem que ninguém perceba, o baby-blues começa a mostrar suas garrinhas e a mãe se desmancha em lágrimas, torna-se hipersensível e melancólica.
Sem falar nas mães que adotam bebês. Elas também, em sua maioria, não escapam do baby-blues (choro, tristeza, falta de confiança em si mesma, sentimento de incapacidade em serem boas mães, entre outros).
Françoise Dolto e Myriam Szejer* costumam afirmar que o bebê começava a ser a partir do terceiro dia pós-parto. Tempo quase que suficiente para a mãe identificar que o bebê em seus braços não é o mesmo que ela construiu em seu imaginário durante nove meses. Este bebê é singular, único, diferente de tudo que ela pode imaginar.
É um momento onde a recém-mãe pode perceber que seu filho é dependente dela para tudo e o tudo é o tudo mesmo. Não tem um tudo parcial ou compartilhado - ele é um "serzinho" à mercê de seus cuidados e afetos: alimentar, higienizar, promover calor, mobilidade, aconchego, ternura, amor e tantos outros afetos e qualidades que só uma mãe devotada comum poderia oferecer ao seu bebê.
O terceiro dia pode ser também o período em que o bebê começa a mostrar ao que veio. Sua força de vida e sua vontade de viver neste mundo que o cerca. O choro se torna mais forte, o bebê dorme um pouquinho menos, há o início do diálogo mãe-bebê - olho no olho, o leite desce, o bebê precisa ser inserido no seio familiar e ocupar seu espaço. A mãe é capaz de relembrar fatos de seu passado mais remoto - é como se acontecesse algo mágico e a mente da mulher ficasse mais transparente aos fatos de sua história.
Os recém-papais também não escapam do baby-blues. Pode não ser tão acentuado como nas mulheres, mas também exibem um certo grau de melancolia. Refletem se serão bons pais, se darão conta em cuidar da família e prover o necessário para todos. Muitos pensam se ainda terão assegurado o seu lugar no coração de suas companheiras. Não se espantem se alguns maridos após o nascimento de seu filho "cair de cama" em decorrência de uma gripe, sinusite ou outra patologia que simbolize esse período conflitante.
É interessante lembrar que a mulher teve nove meses para se adaptar e se acostumar com a ideia de ser mãe. Para o homem, o significado é mais demorado, pois os ingredientes da massa não são adicionados um a um em seu ventre mês após mês. Quando ele menos espera, o bolo já vem prontinho e decorado com um lacinho azul ou rosa.
É com o parto e a proximidade do bebê que o homem experimenta a realidade de ter uma vida sob sua responsabilidade. Portanto, foi preciso cortar o cordão umbilical que ligava o bebê a mãe para que o papai pudesse se conectar psicologicamente ao seu filho. Foi da cisão da mãe com o bebê que nasceu, realmente, a união da criança com seu pai.
* Estudiosas da área de saúde mental infantil
* Terapeuta Familiar - Casal - Individual, ênfase na relação mãe-bebê. Especialista-Mestre-Doutora-Pós-Doutora pela UNIFESP, Fellow Universidade Pittsburgh - USA. Site: www.terapeutadebebes.com.br. Instagram: @terapeutadebebes_familia
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