Terça, 15 Jul 2025

Flores e espinhos: educando para a vida real

Educar um outro ser humano é uma grande responsabilidade. Desde o momento em que chegamos neste mundo começamos nossa trajetória de aprendizagem para nos tornarmos adultos autônomos. Refletindo sobre autonomia, esse seria o objetivo final, educarmos as crianças de tal forma que elas consigam ultrapassar os obstáculos do dia a dia com resiliência, encontrando soluções, pedindo auxílio quando necessário, mas acima de tudo, assumindo a responsabilidade pelas próprias decisões e colhendo os resultados de suas escolhas.

Sinceramente, tenho grandes preocupações com a nova geração. Tenho observado uma tendência muito forte das famílias em dar opções de escolha em excesso para as crianças. Não estou dizendo que as crianças não devem ter voz, pelo contrário, mas precisamos ter bom senso, pois dar opções e autonomia demais para alguém imaturo e que não responde por si mesmo, pode causar mais prejuízos do que benefícios.

Exemplificando, imagine uma criança que frequenta a escola pública e ela se recusa a ir de uniforme porque prefere usar aquela roupa nova e com seus personagens preferidos. Ah, mas qual o problema? Vamos fazer uma análise rápida da situação, imaginando que essa família permita que ela tome a decisão de não ir de uniforme, o que ensinará:

  • 1. As regras podem ser burladas - Sim, ela pode estar recebendo essa mensagem indiretamente, pois usar uniforme é uma regra e precisa ser respeitada, existem motivos para o uso do uniforme como igualdade e segurança;
  • 2. Desrespeito com dinheiro público - Sim, uma vez que o uniforme é pago com o dinheiro público e vivemos exigindo que o governo faça a sua parte, não faz muito sentido ensinarmos as crianças que o que vem do governo podemos desperdiçar, isso vale também para o material escolar, na verdade é uma excelente oportunidade para conscientizar a criança.

Destaquei apenas esses dois pontos mais evidentes para ajudar nesta reflexão. Às vezes, mesmo com boa intenção, estamos deseducando nossas crianças. É na convivência com a família e com as pessoas mais próximas que os valores éticos e morais vão sendo construídos. O certo e o errado precisam ser ensinados através de ações concretas. É preciso ter cuidado para que nossa fala esteja alinhada com o nosso próprio comportamento, pois as crianças percebem as incoerências.

Será que estamos criando as crianças para um mundo cheio de amor, porém o que elas vão encontrar é um mundo competitivo, com chefes rígidos, pessoas intolerantes e que não vão facilitar a vida deles em nada? Esses dias uma mãe me relatava sobre o carinho que tinha em cortar a carne para o filho de 9 anos, pois ela gostaria que ele tivesse essas lembranças afetivas. Eu tenho filhas, entendo o que ela me relatou. Porém pedi para que refletisse, na escola alguém vai cortar a carne e deixar do jeitinho que ele gosta? Quando acontecer uma emergência e precisar ficar com outro cuidador? A chance da criança se frustrar e até não se alimentar é enorme.

Essas situações que relatei são reais e do cotidiano, situações simples, mas que podem trazer pequenos prejuízos ou grandes se for replicado para outras situações do dia a dia. Encontrar um equilíbrio na flexibilização pode ser um grande desafio, mas muito necessário. Por não querer ver a criança se frustrar renunciamos à verdadeira educação, que é a que irá prepará-la para a vida real. A vida não é só flores, tem espinhos também!

* A autora é Neuropsicopedagoga e Psicopedagoga Clínica, Pedagoga com Habilitação em Administração Escolar, Especialista em Intervenção ABA no Autismo e Deficiência Intelectual, Professora/Formadora em Educação Inclusiva, além de Coach Pessoal, Profissional e Líder Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Analista Comportamental Disc pela Gestor Performance. Possui experiência de mais de 20 anos na área, atuando no âmbito escolar, clínico, empresarial. Contatos: E-mail: crissaraguci@hotmail.com. Instagram: @neuropsicocristianesaraguci. Facebook: @neuropsicocristianesaraguci. Site: www.cristianesaraguci.com.br

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Quarta, 16 Julho 2025

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