Quarta, 02 Jul 2025

O caos da sala de aula e as práticas pedagógicas na contemporaneidade

O mundo contemporâneo tem exigido respostas complexas dos educadores, levando em conta a diversidade nas formas de aprender e dos desafios impostos pelas dificuldades e transtornos de aprendizagem. O que vemos atualmente são situações que comprometem o desempenho escolar e escancaram as limitações das práticas pedagógicas tradicionais para atender as especificidades cognitivas, emocionais e comportamentais dos estudantes.

As salas de aula inclusivas recebem estudantes com comprometimentos cognitivos, físicos, motores e comportamentais que exigem um conhecimento mais amplo, ultrapassando as didáticas e metodologias de ensino, exigindo que os professores tenham acesso a formações mais abrangentes, que incluam neurociência, psicologia, desenvolvimento humano e muito mais. Esses conhecimentos são fundamentais para que os professores consigam tomar decisões mais assertivas e com olhar sensível a singularidade de cada aluno.

Outro ponto fundamental são as articulações com os profissionais especializados de outras áreas, alguns casos exigem orientações da área da saúde, por exemplo, devido a complexidade do caso. Cada vez mais a interdisciplinariedade e a multidisciplinariedade serão fundamentais para o sucesso acadêmico dos estudantes e para uma prática pedagógica mais efetiva.

Todos temos acompanhado a dura realidade que as escolas brasileiras vêm enfrentando, principalmente as escolas públicas. Existem muitas leis sobre a inclusão de pessoas com deficiência, porém elas são totalmente cumpridas? E a resposta é: NÃO. E quem sofre as consequências do descaso são os estudantes, suas famílias, os colegas e os professores. O problema está nas políticas públicas!

O caos atual é um dos principais motivos das práticas pedagógicas, sejam tradicionais ou renovadas, não estarem funcionando. São questões muito complexas, salas de aula lotadas e a culpa recaindo sobre o lado mais fraco: os professores. É humanamente impossível dar conta de tudo, inclusão não se faz apenas com professor. Toda essa realidade acaba deixando estudantes e professores vulneráveis. Já passou da hora dos governantes assumirem a responsabilidade sobre toda essa situação caótica que eles criaram. Porque como já diziam meus avós: "de boa vontade o inferno está lotado".

Vamos pegar como exemplo os casos mais graves de autismo, crianças nível 3 de suporte, com comportamentos auto lesivos e agressivos, sem receber tratamento adequado, matriculadas dentro de uma escola regular, sem mediador escolar, sem serem preparadas para frequentarem aquele ambiente. É a receita perfeita para que tudo dê errado! É tão óbvio, não precisa ser nenhum especialista renomado para saber que essa situação é muito perigosa e que coloca em risco a criança, seus colegas e os professores.

Tive a oportunidade de realizar algumas formações na área do autismo, inclusive sobre o tratamento de crianças nível 3 de suporte com esses comportamentos. São meses para modificação desses comportamentos, que surgem em situações que são desafiadoras para a criança. E estou falando de um ambiente controlado, atendimento 1 a 1, com 3 especialistas na sala. Como uma criança que oferece tantos desafios vai conseguir ser inserida em uma sala de aula regular, com aproximadamente 30 crianças, sem tratamento, sem apoio e com a sociedade dizendo que o professor precisa dar conta? Beira a insanidade. É simplesmente impossível!

Precisamos começar a repensar as práticas pedagógicas sim, mas não apenas isso, é preciso dar condições para que elas sejam colocadas em prática. Diante do caos atual, prioridade é colocar ordem nessa bagunça que virou a educação inclusiva. Precisamos exigir que o governo se posicione e tome medidas eficientes, pensadas e planejadas juntamente com profissionais experientes de todas as áreas envolvidas, inclusive as famílias dos alunos. Somente com um diálogo e mente aberta conseguiremos melhorar as práticas pedagógicas, que para oferecerem bons resultados dependem que muitas outras questões sejam resolvidas primeiro.

* A autora é Neuropsicopedagoga e Psicopedagoga Clínica, Pedagoga com Habilitação em Administração Escolar, Especialista em Intervenção ABA no Autismo e Deficiência Intelectual, Professora/Formadora em Educação Inclusiva, além de Coach Pessoal, Profissional e Líder Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Analista Comportamental Disc pela Gestor Performance. Possui experiência de mais de 20 anos na área, atuando no âmbito escolar, clínico, empresarial. Contatos: E-mail: crissaraguci@hotmail.com. Instagram: @neuropsicocristianesaraguci. Facebook: @neuropsicocristianesaraguci. Site: www.cristianesaraguci.com.br

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