Cuidar da primeira infância é investir no futuro

Há tempos as ciências demonstram que oferecer condições favoráveis ao desenvolvimento infantil é mais eficaz do que tentar reverter ou reduzir os atrasos no desenvolvimento, posteriormente. A explicação é a mesma que já venho alertando em vários artigos: a plasticidade cerebral nos primeiros anos de vida. Além desse fator, é importante salientar que, o aprendizado acontece por etapas, cada conteúdo aprendido serve de base para o aprendizado na etapa seguinte.

Sendo assim, os déficits que eventualmente possam surgir no desenvolvimento da criança nos primeiros anos, exigem uma atenção especial e intervenções precoces, uma vez que eles podem crescer com o passar dos anos, o que exigirá investimentos, tanto pessoais quanto econômicos cada vez maiores para serem corrigidos. Entendam que quanto maior o déficit produzido, mais difícil é remediá-lo posteriormente, de modo que desigualdades produzidas na primeira infância acabam por contribuir significativamente para a desigualdade social percebida na vida adulta. As consequências negativas são enormes: evasão escolar, pobreza, envolvimento com o crime, desmotivação, entre outros. No longo prazo, crianças que tiveram menos oportunidades de desenvolvimento tornam-se, com maior probabilidade, adultos pobres, produzindo o fenômeno conhecido como ciclo intergeracional da pobreza.

Pesquisas mundiais demonstram que crianças que frequentam boas escolas e recebem atenção à saúde adequada na primeira infância, têm maior probabilidade de tornarem-se cidadãos com menor propensão ao envolvimento com tabagismo, alcoolismo, criminalidade e violência, além de precisarem menos da ajuda do governo para sua sobrevivência. Tornam-se adultos autônomos!

Para que a educação infantil tenha impactos positivos duradouros é necessário que sejam oferecidos serviços educacionais de qualidade. Estudos mostram que, no caso da creche para crianças de até 2 anos ou 2 anos e meio, a qualidade representa um fator determinante, ou seja, creches de boa qualidade podem representar benefícios para o desenvolvimento infantil, mas creches de baixa qualidade podem gerar prejuízos no desenvolvimento das crianças. Na prática, alguns fatores podem nos ajudar a analisar a qualidade do serviço oferecido: profissionais com bom nível de formação, atentos e responsivos às necessidades da criança e engajados em promover o desenvolvimento infantil integral, distribuição em turmas pequenas com números reduzidos de crianças por educadores conforme a faixa etária; currículos apropriados para faixa etária com ambiente estimulante e voltado para alto nível de participação ativa da criança; infraestrutura segura com rotinas de higiene e cuidado pessoal, entre outros.

Outro ponto importante que os estudos nos mostram é que crianças que crescem em ambientes desfavoráveis, em situação de vulnerabilidade, expostas a fatores de risco, tendem a se beneficiar ainda mais da educação infantil. Quando a qualidade do ambiente familiar é comprometida, o benefício de frequentar a creche ou pré-escola é mais evidente. A criança passa a receber na escola parte dos estímulos que deveria receber em casa.

Uma coisa é fato, um olhar atento para a primeira infância, que vai do nascimento até os 6 anos de idade, é fundamental para eliminar barreiras de aprendizagem e gerar oportunidades para que a criança se desenvolva integralmente, tornando-se um adulto autônomo no futuro. Porém, outro fato também é verdadeiro, o descaso com os primeiros anos de desenvolvimento de uma criança, trarão consequências, muitas vezes irreversíveis, para o indivíduo, sua família e a sociedade.

* A autora é Neuropsicopedagoga e Psicopedagoga Clínica, Pedagoga com Habilitação em Administração Escolar, Especialista em Intervenção ABA no Autismo e Deficiência Intelectual, Professora/Formadora em Educação Inclusiva, além de Coach Pessoal, Profissional e Líder Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Analista Comportamental Disc pela Gestor Performance. Possui experiência de mais de 20 anos na área, atuando no âmbito escolar, clínico, empresarial. Contatos: E-mail: crissaraguci@hotmail.com. Instagram: @neuropsicocristianesaraguci. Facebook: @neuropsicocristianesaraguci. Site: www.cristianesaraguci.com.br