Leitura e escrita na Deficiência Intelectual
No Brasil, quando falamos em educação especial, os estudantes com deficiência intelectual correspondem a 67% do público-alvo. A deficiência intelectual (DI) ou Transtorno do Desenvolvimento Intelectual trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento.
Ao longo da história inúmeros termos foram sendo utilizados para nomear a DI, todos surgiram em versões anteriores do DSM, que é o Manual de referência na Psiquiatria. Entre os termos utilizados anteriormente temos: Idiotia, debilidade mental, infradotação, imbecilidade, retardo mental, déficit intelectual/cognitivo e deficiência mental. Essa é a origem dos estereótipos criados pela sociedade em geral e que são usados até hoje como forma de ofensa ou de diminuir outras pessoas.
Atualmente, o termo utilizado é deficiência intelectual (DI) ou Transtorno do Desenvolvimento Intelectual. Esse termo foi usado a primeira vez em 1995, no Simpósio sobre Deficiência Intelectual. Essa alteração é considerada importante, pois a nomenclatura atual deixa claro que é uma deficiência nas habilidades cognitivas e não uma doença mental.
A DI se manifesta na infância, sendo possível observar suas dificuldades antes mesmo de iniciar sua vida escolar. A criança com DI apresenta déficits em suas funções intelectuais e adaptativas, ou seja, tem dificuldade no raciocínio, no pensamento abstrato, na aprendizagem acadêmica, na resolução de problemas, no juízo, no planejamento, na aprendizagem por experiência e em relação à independência pessoal e responsabilidade social.
Existem quatro níveis de gravidade na DI: leve, moderada, grave e profunda. Os níveis correspondem ao apoio que esse indivíduo precisa no dia a dia. O diagnóstico é multidisciplinar, principalmente a neuropsicologia, pois ela é capaz de realizar um rastreio intelectual completo e determinar o QI (coeficiente de inteligência) do indivíduo.
Por experiência profissional, posso afirmar que muitas crianças frequentadoras do ambiente escolar brasileiro não foram diagnosticadas e seguem com importante déficit na aprendizagem da leitura, escrita e matemática. Elas chegam muitas vezes ao ensino médio sem praticamente nenhum apoio. Apesar de existirem Leis que garantem um diagnóstico precoce, as escolas não estão preparadas e a articulação entre educação e saúde não tem funcionado como deveria. Lembrando que o diagnóstico precoce é fundamental para reduzir os déficits e proporcionar maior qualidade de vida para esses estudantes.
A alfabetização de estudantes com deficiência intelectual exige uma formação adequada, conhecimento dos tipos de métodos e teorias disponíveis que apresentam bons resultados para este público, pois eles não aprendem no mesmo ritmo e da mesma maneira que os outros estudantes. É um grande desafio alfabetizar estudantes com esta condição e é necessário um plano de ensino individualizado para vencer todas as etapas.
As pesquisas que encontramos sobre alfabetização de estudantes com DI demonstram que antes de iniciar o processo de alfabetização é importante trabalhar a relação fonema e grafema, ou seja, a consciência fonológica. As pesquisas utilizaram vários métodos, entre eles o fonovisuoarticulatório, Abacada e o Fônico, todos sintéticos, ou seja, partiram de unidades menores.
Quando utilizamos métodos existe uma preocupação maior com o planejamento e com a sequência das letras e/ou sílabas que serão apresentadas ao estudante e o respeito ao tempo de aquisição da aprendizagem, ou seja, não passamos para o ensino de uma nova unidade se o estudante não tiver domínio sobre o conteúdo anterior. Aqui está o grande desafio para o professor e é por este motivo que é imprescindível que sejam realizadas adaptações de currículo e atividades.
Em resumo, é possível alfabetizar DI de nível leve e moderado, desde que se estabeleça um método de ensino e todos eles envolvem o ensino da relação entre o som das letras (fonema) e a escrita (grafema) e partem do ensino da menor unidade. Apenas estar em sala de aula não é suficiente para que essas crianças sejam alfabetizadas, é necessário um trabalho individualizado e um atendimento educacional especializado eficiente.
* A autora é Neuropsicopedagoga e Psicopedagoga Clínica, Pedagoga com Habilitação em Administração Escolar, Especialista em Intervenção ABA no Autismo e Deficiência Intelectual, Professora/Formadora em Educação Inclusiva, além de Coach Pessoal, Profissional e Líder Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Analista Comportamental Disc pela Gestor Performance. Possui experiência de mais de 20 anos na área, atuando no âmbito escolar, clínico, empresarial. Contatos: E-mail: crissaraguci@hotmail.com. Instagram: @neuropsicocristianesaraguci. Facebook: @neuropsicocristianesaraguci. Site: www.cristianesaraguci.com.br
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