Sexta, 24 Out 2025

Realmente é só um sonho

Estou lendo aqui nos jornais que a fortuna do tal Cristiano Ronaldo, jogador de futebol português, já chegou a sete bilhões e nem sei lá quantos mil mais de reais, ou quase um bilhão e meio de dólares, e que agora está no Al-Nassr, um clube dos árabes. Árabes lá das Arábias, claro. Risos se me perdoam (rsrsrs).

Nada mal. O que é lamentável é que eu, eu mesmo, também poderia, eventualmente, ter chegado nesse patamar. Eu digo patamar no sentido de altura e não de outra coisa que se possa imaginar, claro, muito claro. Claríssimo.

Digo isso tudo quando relembro, eu, eu mesmo, de novo, relembro quando ainda era criança. Ou quase. Lá com meus dez anos de idade ou perto disso, e também brincava com a pelota (pelota como substantivo igual a bola, e bola de futebol, mais claro ainda, e, a coisa, ou as coisas, vão por aí).

" Um "guardinha" danado "

Pois é. E garanto que só não cheguei lá mais pra frente por mera circunstância, ou, talvez, até por culpa de um "guardinha", com perdão da palavra, "guardinha" lá de uma cidade do interior onde eu vivia.

Eu falo da saudosa Quatá, que fica, ou pelo menos ficava, a uns 500 quilômetros, mais ou menos, distante aqui da Capital do Estado de São Paulo. A gente só chegava lá viajando pela "Estrada de Ferro Sorocabana", que, ao que me lembre, já nem existe mais.

Sem trem e sem nada, volto à Quatá neste momento, para contar a minha história que poderia ser outra, da mesma forma que eu também poderia ser outro, com história diferente para contar.

" Ruas de areia "

Sim, foi nas ruas de Quatá, com suas ruas cheias de areia. É preciso ressaltar que naqueles tempos pouco se falava de asfalto de ruas, ruas que, quando muito, tinham pedras. E muitas pedras.

O asfalto negro foi coisa que veio só num certo tempo depois que eu nem lembro, e até hoje nem sei se, tanto tempo passado, chegou por lá, pelas ruas de Quatá, cidade que eu tanto gostava.

Não tenho números na cabeça, no entanto, posso dizer que, à época, Quatá talvez tivesse umas vinte ruas, mais ou menos, ou por aí, mais pra mais que mais pra menos. Também não lembro e nem sei como andam as coisas por lá, se é que as coisas continuem andando por lá. Por isso, volto ao passado.

Voltando, nunca me esqueço que costumava ficar jogando bola no meio da rua, bem em frente à minha casa, que ficava ao lado da Igreja Matriz da cidade. Por sinal, talvez até fosse a única igreja católica, nem sei se haveria outra de qualquer corrente religiosa.

Fique claro que o movimento de veículos pelo local era zero, até porque o número de automóveis, caminhões ou coisa parecida na cidade, usava o mesmo número, ou seja, o tal de praticamente zero.

" Lá vem o guarda "

Sim, era lá que eu jogava bola, bem em frente à minha casa. E foi lá também que a minha futura carreira de brilhante futebolista foi pro vinagre, como diriam os produtores cinematográficos ou de outros produtos menos artísticos.

Digo isso porque o tal guardinha, já descrito linhas passadas, deu-se ao trabalho de recolher a bolinha que eu jogava com alguns amiguinhos, naquela ruazinha toda feita de pó e barro, sem asfalto, sem calçamento, e até sem vergonha, porque, naquele tempo, calçar, asfaltar, arrumar ruas era coisa para gente rica de cidade mais rica ainda.

Pobre Quatá, cidade onde eu vivia

" Foi quando se deu "

Nisso tudo lá se foi a bolinha que a gente batia com outros coleguinhas. O guarda que passou levou. Levou e acabou levando uns trancos dados pelo meu pai. Trancos tão trancados que o tal guardinha se viu obrigado a levar de volta a bolinha que tinha tirado da gente, quando a gente jogava.

Sorte dele. Meu pai, um "alagoano da peste", como se dizia e ainda se diz lá nas Alagoas, era peste também, andava de peixeira na cintura. "Vem que tem, cabra safado!!!", era o mote.

E foi então que o caboclo guardinha foi lá, em pessoa, devolver a bolinha que tinha levado.

Tudo sob a supervisão do sr. Manoel de Oliveira Barros, um alagoano "da peste" que não gostava de discutir ou ser discutido. "Tásmintendendo, ó cabra???".

" Parei, mano "

Pois foi assim e por isso que eu parei de jogar bola, antes que meu pai pusesse o tal "cabra da peste", como se diz lá nas Alagoas, cabra da peste, repito, do guardinha deu pra correr antes de qualquer outro verbo que poderia até ser o tal de morrer. "Ó xentis!" - como se diz por lá, nas Alagoas.

Diante disso, para salvar o guarda, parei de jogar bola na rua, defronte à minha casa.

Minha carreira foi para o espaço. Dali pra frente só me sobrou um único consolo: torcer para o Corinthians, coisa que, para falar a verdade, também não resolve muito, pois o Timão judia mais que guarda de trânsito, guarda que leva a bolinha da garotada que joga bola na rua, guarda que não guarda rancores, guarda da guarda, guarda da guarida e guarda guardado.

" Foi o fim "

Isso, ao final dessa "guardação" toda, lá se foi a minha carreira de futebolista.

Ainda bem. Porque, na verdade, nunca vi ninguém jogar tão mal quanto eu jogo. Nem meus amigos me escalavam nos times que a gente formava e eu não servia nem para a reserva.

Como sou uma pessoa muito reservada, me reservo também ao direito de não falar ou conversar sobre futebol. Esse foi meu último gol.

"Mas, que dá dó, dá dó dá, como diz a música". Eu, que poderia estar ganhando os bilhões de dólares que o Cristiano Ronaldo está ganhando prefiro ganhar em Reais. Isso tudo não passa de uma coisa realmente de louco, não acha? Como eu já perdi tudo, hoje eu não acho nada.

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