Sexta, 11 Out 2024

Autismo e bullying: as vítimas perfeitas

Imagem de pikisuperstar no Freepik

Cristiane Fernandes Esteves Saraguci*

Estudos mostram que crianças e indivíduos dentro do espectro do autismo são vítimas perfeitas para o bullying, isso deve-se à falta de habilidades sociais. Outro ponto é que o autismo é invisível "fisicamente", ou seja, diferente da Síndrome de Down, por exemplo, a criança com autismo não tem características físicas que a identifique com o transtorno.

A criança que possui TEA tem dificuldade de interpretar pistas sociais e compreender as intenções dos outros, o que facilita o bullying. Estudos chamam isso de "prejuízo no sistema de navegação social". Todos nós já nascemos com esse sistema de navegação social pré-instalado, porém nas pessoas dentro do espectro existe uma falha nesse sistema. Esse é um dos motivos que dificulta as interações sociais, uma vez que não conseguem perceber que os pensamentos das outras pessoas são diferentes dos dela, que as pessoas sentem coisas diferentes e assim por diante.

Exemplos de bullying: zombar de alguém ou fazer piadas sobre eles, ignorar e deixar a pessoa para trás, agressões físicas (bater, empurrar, puxar, chutar), ameaçar, forçar a participar de situações degradantes sem o seu consentimento, entre outros.

Um alerta para os pais é observarem o comportamento do filho para identificarem se pode estar ocorrendo alguma situação de bullying na escola:

  • * A criança tem chegado com a roupa muito suja ou rasgada, faltando itens na sua mochila com muita frequência;
  • * Está apresentando muitos comportamentos de fuga ou esquiva para não ir às aulas;
  • * Fica mais ansioso do que o normal;
  • * Está mais deprimido ou menos feliz do que o normal, parecendo preocupado ou triste;
  • * Apresenta dificuldade de concentração;
  • * Está apresentando arranhões, machucados, hematomas, que antes não eram comuns e não sabe explicar como aconteceu;
  • * Aumento na intensidade dos comportamentos repetitivos;
  • * Está mais agressivo sem que você consiga identificar a causa.

As crianças dentro do espectro não sabem se defender. Um exemplo de uma situação real em sala de aula que me relataram foi sobre um adolescente autista, um colega de turma abaixou a calça dele, os colegas ao redor começaram a rir. Com isso reforçaram o comportamento do adolescente em abaixar a calça, que na verdade sofria bullying, pois a leitura que ele fez da situação foi totalmente equivocada, ele interpretou que os colegas ficaram felizes e acharam engraçado, com isso ele começou a abaixar a calça com frequência e correr pela sala nu, pois todas as vezes o comportamento dele era reforçado pelas risadas e atenção dos colegas.

Nas formações para professores sobre Transtorno do Espectro Autista sempre abro espaço para esse assunto, pois uma das formas de combater o bullying é falando sobre ele. Uma das dificuldades mais relatada é o medo que os professores têm de expor a criança com autismo ao falar sobre o assunto com os outros alunos, pois não querem causar nenhum tipo de constrangimento tanto para a criança quanto para a família.

Uma falha está nas próprias famílias, os pais precisam conversar com os filhos sobre o assunto, conscientizá-los sobre o bullying, independente de ser uma criança com algum tipo de deficiência ou não. A educação começa dentro de casa, como sempre dizia minha mãe: "Educação vem de berço". Não seja tolerante ao perceber que seu filho é desrespeitoso com qualquer pessoa!

E relação às escolas, elas podem investir na psicoeducação, aproximando a equipe de AEE da comunidade escolar, favorecendo a relação de confiança e parceria com os profissionais da Psicologia Educacional. Além de promover circuitos de palestras e encontros para trocas entre os pais, depoimentos de famílias de crianças deficientes, para estimular e desenvolver mais empatia na sociedade em geral.

* A autora é Neuropsicopedagoga e Psicopedagoga Clínica e Institucional, Pedagoga especialista em Administração Escolar, Coach Pessoal, Profissional e Líder Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Analista Comportamental Disc pela Gestor Performance. Possui experiência de mais de 20 anos na área, atuando no âmbito escolar e clínico, como também no mundo business como Coach, palestrante e desenvolvendo pessoas. Contatos: E-mail: crissaraguci@hotmail.com; Instagram: @neuropsicocristianesaraguci; Facebook: @conexãodoaprender e Blog: https://conexaodoaprender.home.blog/

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